A ABORDAGEM DA ETNOBOTÂNICA NA DISCIPLINA DE BIOLOGIA: REFLEXÕES EM UMA ESCOLA DE ENSINO MÉDIO DO MACIÇO DE BATURITÉ/CE Luana Mateus de Sousa [1] lulu_matheus@hotmail.com/UNILAB Maria do Socorro Lopes da Silva [2] socorrolopes.mi@gmail.comUNILAB Bruno Miranda Freitas[3] brunim1991@hotmail.com/UFC Elcimar Simão Martins [4] elcimar@unilab.edu.br/UNILAB Eixo Temático: (Processos de Ensino e aprendizagem). Resumo A humanidade desde seu surgimento busca entender e compreender o mundo a sua volta. A história em torno das descobertas destes processos vem sendo transmitida de diversas formas, como por exemplo, atraves da oralidade e do registro escrito. No tocante aos saberes etnobotânicos não é diferente, no entanto, nas últimas décadas a falta de interligação entre os saberes da etnobotânica e os conhecimentos científicos no ambiente educacional promoveram a desvalorização dos saberes tradicionais, gerando a super valorização dos conhecimentos científicos. Com isso, o ensino de botânica que é considerada como um campo interdisciplinar que envolve o estudo das sociedades humanas, as inter-relações ecológicas e dinâmica natural das relações entre o ser humano e as plantas que poderia ser interligada com os saberes dos discentes, permeando discussões sobre vivências, experiências e promovendo a troca de conhecimento em sala de aula, acaba sendo realizado por meio da memorização de termos técnicos, o que não desperta o interesse dos alunos fazendo que os mesmos achem o tema difícil, encarando o ensino de biologia como algo desafiador, em virtude da complexidade dos fenômenos estudados, que por vezes mostram-se distantes da realidade dos alunos. Para Menezes et al (2008), o ensino de botânica tem sido realizado de forma tradicional, o que provoca inúmeras dificuldades de compreensão entre os alunos. Entre os problemas mais evidentes, está a falta de interesse dos alunos pelo conteúdo, o que é aprofundada pela ausência de atividades práticas e de material didático específico (KINOSHITA et. al., 2006). Santos e Ceccantini (2004) corroboram, destacando que no ensino médio, alguns educadores relatam dificuldade em desenvolver atividades práticas que despertem curiosidade do aluno e mostrem a utilidade do conteúdo abordado em seu dia-a-dia. Uma das formas de atrair os alunos para essa temática pode estar na utilização do conhecimento botânico dos discentes, adquirido durante suas vivências e experiências. Conforme consta nos Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (BRASIL, 1999), os conceitos de contextualização e interdisciplinaridade são fundamentais para a integração entre os diferentes conhecimentos e através destes o discente pode criar condições necessárias para uma aprendizagem motivadora à medida que ofereça maior liberdade aos professores e alunos para a seleção de conteúdos que reflitam a vida em comunidade. Ainda segundo o documento, o distanciamento entre as experiências cotidianas dos discentes e os conteúdos programáticos pode ocasionar o desinteresse dos discentes. Neste cenário, a botânica pode ser utilizada como mecanismo de conhecimento, valorização e divulgação dos saberes populares da etnobotânica. Rosa e Orey (2012) revelam a importância das abordagens êmica e ética. A primeira está relacionada às interpretações que os próprios sujeitos fazem de sua cultura. A segunda é a que os pesquisadores fazem. Com isso chamam a atenção para que o professor como pesquisador de sua prática dê um novo sentido ao que ensina, compreendendo que "o conhecimento adquirido é centrado, localizado, orientado e fundamentado no perfil cultural dos alunos, pois visa equipá-los para serem cidadãos produtivos local e globalmente" (ROSA; OREY, 2012, p. 877). Embasados nesta perspectiva, o presente estudo se propõe a compreender a inter-relação dos saberes tradicionais com os conhecimentos científicos no ensino de botânica durante as aulas de Biologia em turmas do 2º ano de uma escola pública do ensino médio no município de Redenção-CE, região do Maciço de Baturité. Considerando a dialética de Freire em que ora se aprende, ora se ensina e reaprende ao ensinar, busca-se neste estudo colocar em prática o que Guimarães (2007, p. 90) ressalva ao afirmar que no processo educativo o que falta é a perspectiva crítica de "ampliar o ambiente educativo para além dos muros da escola", refletindo assim que a escola é um dos lugares onde se adquire conhecimento, porém não pode ser considerado o único local para essa aquisição. Metodologicamente, considerando a importância da temática em estudo, optou-se pela pesquisa qualitativa do tipo descritivo-exploratória, dividindo-se em dois momentos, o primeiro através da análise do livro didático de biologia do 2ª ano e o segundo através da realização de entrevistas com a turma. Os achados revelaram que no livro didático o conteúdo é descrito de forma sucinta e não faz relação com os conhecimentos tradicionais da etnobotânica. Durante a realização das entrevistas constatou-se que os discentes possuem um amplo nível de informações acerca das plantas características da região do Maciço de Baturité, porém dentro do ambiente escolar esse conhecimento não é disseminado, muito menos levado em consideração pelos professores, necessitando assim que o docente adquira um novo olhar para estes conhecimentos e seja capaz de incorporar novas metodologias, possibilitando uma aprendizagem diferenciada.Desta forma, o emprego dos saberes populares da etnobotânica nas aulas de biologia é um incremento significativo, embora o livro didático não faça essa interligação o professor pode associar o conteúdo didático com os saberes etnobotânicos dos discentes, uma vez que estes conhecimentos se constituem para além da experiência concreta do docente em particular (SACRISTÁN, 1999). Nesse contexto, pode-se concluir que é possível a interligação destes conhecimentos através da realização de discussões e mudanças de metodologias por parte dos docentes na sala de aula. Palavras-chave: Educação, aprendizagem, saberes tradicionais. Referências BRASIL, Secretaria de Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino médio. Brasília: MEC, 2000. GUIMARÃES, M. Educação ambiental: participação para além dos muros da escola. In: MELLO, S. S.; TRAJBER, R. (coord.) Vamos cuidar do Brasil: conceitos e práticas em educação ambiental na escola. Brasília. Ministério da Educação, Coordenação geral de Educação Ambiental: Ministério do Meio Ambiente, Departamento de Educação Ambiental: UNESCO, p. 85-9, 2007.