REFLEXÕES SOBRE A DISCIPLINA ESTÁGIO SUPERVISIONADO DO CURSO DE LETRAS DO IFCE.
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O estágio supervisionado, nos cursos de licenciatura, detém um importante papel para a formação do professor iniciante, uma vez que é o momento em que o licenciando vivencia o entrelaçamento entre teoria e prática, aprimorando suas práticas educativas por meio do estudo, da análise e da reflexão das questões que envolvem o processo ensino-aprendizagem. Sendo assim, é relevante pensarmos no estágio enquanto componente curricular, enquanto disciplina que marca a culminância de boa parte do aporte teórico e das metodologias discutidas e utilizadas ao longo do curso. Em nosso trabalho, propomos a observação e a reflexão da organização curricular do curso de Letras Português/ Inglês do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE) em relação à integração das disciplinas teóricas às disciplinas de estágio supervisionado, assim como a construção da identidade docente dos alunos licenciandos do Instituto Federal. Optamos por analisar a grade curricular do curso de Letras do IFCE uma vez que se trata de um curso relativamente novo dentro do instituto e que, portanto, ainda está em processo de construção da sua identidade acadêmica e social. Além disso, a regência das disciplinas de estágio guarda a particularidade de ser conduzida por dois professores: um pedagogo e um da área específica da Letras, o que não é comum nos outros cursos de Letras das universidades brasileiras, no entanto, essa configuração possibilita visões mais amplas para a condução da disciplina. Levando isso em consideração, nosso estudo tem como objetivos (i) Refletir sobre a articulação entre teoria e prática na disciplina de estágio supervisionado e sua repercussão na formação inicial dos estudantes de letras, (ii) Compreender como a disciplina de estágio supervisionado colabora para a construção da identidade profissional docente. Nossos pensamentos encontram embasamento teórico nas ideias de Pimenta (2002), Libâneo (2002), Pimenta e Lima (2004), que tratam da importância do estágio supervisionado para a formação inicial docente e do conceito de professor reflexivo. Além desses autores, destacamos as considerações de Sousa e Vago (2008) no que diz respeito ao ensino da gramática e à formação linguística e as de Dornelles (2012) e Santos (2012) sobre a organização curricular dos cursos de Letras. Seguindo a classificação metodológica de Minayo (1997), Lüdke e André (2014), nosso trabalho tem uma natureza qualitativa, uma vez que nos propomos a analisar e a refletir sobre as informações presentes nos questionários respondidos por 31 alunos matriculados nas disciplinas Estágio Supervisionado I e Estágio Supervisionado II em Língua Portuguesa do curso de Letras do IFCE campus Camocim. O questionário é composto por oito perguntas que contemplam os seguintes eixos: articulação teoria e prática, enfrentamento da realidade social, contribuições dos componentes curriculares para a formação inicial e identidade docente. A aplicação do questionário se deve ao fato de que buscamos compreender a visão dos alunos acerca das contribuições que as disciplinas cursadas ao longo do curso exerceram em sua formação inicial, bem como sondar as reflexões discentes a respeito da profissão docente e do seu papel social. Após análise e reflexão das respostas dadas no questionário, observamos que os alunos entendem que a organização curricular do curso de Letras Português/ Inglês do IFCE os auxilia no desempenho do estágio por fornecer elementos teóricos que são úteis à prática. Segundo eles, isso dá uma maior segurança nas situações de regência. Em relação ao enfrentamento da realidade social, o primeiro contato com a realidade das escolas causou, em alguns alunos, certo estranhamento, devido ao difícil cenário em que se encontra a escola pública em Camocim (infraestrutura precária, salas superlotadas, violência, baixa motivação discente etc). Porém, a maioria dos estagiários relatou que enfrentou bem o difícil cenário educacional, devido a curtas experiências docentes, anteriores ao estágio. Desse modo, entendemos que, mesmo pontuais, essas experiências forneceram segurança e, consequentemente, proporcionaram um enfrentamento positivo da realidade escolar. Ao refletirem sobre seu papel social e sobre sua identidade docente, a maioria dos alunos mostrou entender o papel social que a docência exerce no que tange a transformação da sociedade. Além disso, os graduandos em Letras do IFCE campus Camocim se vêe m como profissionais em constante construção e evolução. É importante destacarmos que poucos alunos mostraram ter uma visão do professor como um mero transmissor de conteúdo. Por fim, os alunos pontuaram que as disciplinas de estágio permitem o contato com a realidade e com os problemas enfrentados pelo professor, principalmente, no que se refere ao trato com os alunos em diferentes situações. Outra contribuição relevante é a mudança no modo de ser, pensar e agir, já que muitos alunos só passaram a entender a docência quando se viram inseridos nas escolas. Sendo assim, advogamos que a inserção dos estagiários nas práticas de ensino deve ser baseada em uma práxis comprometida com a superação da dicotomia teoria e prática. O desafio é, portanto, romper com a visão meramente burocrática do estágio supervisionado, nas universidades e nos institutos federais, a fim de que aconteça um real exercício de participação colaborativa entre instituições de ensino superior e escolas. Palavras-chave: formação inicial docente, estágio supervisionado, identidade docente Referências Bibliográficas DORNELLES, C. A reforma curricular e o debate sobre língua portuguesa e ensino no curso de Letras. In: SIGNORINI, I. ; FIAD, R.S. (Org.). Ensino de língua: das reformas, das inquietações e dos desafios Belo Horizonte: Editora UFMG, 2012, p. 122-143. LIBÂNEO, José Carlos. Pedagogia e pedagogos, para quê? 5º ed. Cortez: São Paulo, 2002. LÜDKE, Menga; ANDRÉ, Marli E.D.A. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 2014. MINAYO, Maria Cecília de Souza (Org). Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Petrópolis: Vozes, 1997. PIMENTA, Selma Garrido, LIMA (orgs), Maria Socorro Lucena. Estágio e Docência. São Paulo: Cortez, 2004. PIMENTA, Selma Garrido. O estágio na formação de professores - Unidade Teoria e prática?. São Paulo: Cortez, 2006. PIMENTA, Selma G.; GHEDIN, Evandro (orgs). Professor reflexivo no Brasil: gênese e crítica de um conceito. São Paulo: Cortez, 2002. SANTOS, S. N. G. Praxeologização do currículo e formação docente. In: SIGNORINI, I. ; FIAD, R.S. (Org.). Ensino de língua: das reformas, das inquietações e dos desafios Belo Horizonte: Editora UFMG, 2012, p. 145-170. SOUSA, A. L.; VAGO. R. M.A. Crenças dos professores sobre o ensino de gramática e formação linguística: uma interseção necessária.. In: ______; COSTA, M. A. R. (Org.). Ensino de língua materna na perspectiva do discurso: uma contribuição para o professor. v. 2. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2008, p. 129-157." 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