Artigo Anais VII ENALIC

ANAIS de Evento

ISSN: 2526-3234

QUEM CONTA UM MICROCONTO DIMINIU UM PONTO: ESCRITA CRIATIVA EM MICRONARRATIVAS DE TERROR

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Com essa intervenção pedagógica, buscou-se desenvolver a escrita criativa e sucinta em ambas as línguas por meio do gênero microconto de terror, abrindo, assim, um espaço para a compreensão de mundo e expressão do sujeito aluno enquanto autor de sua realidade. Para tal, partiu-se da ideia de que o ser humano é um ser social, que modifica e é modificado por meio de suas interações com aquilo e aqueles que o cercam, constituindo-se como um sujeito (e agente) sócio-histórico de seu tempo e de sua realidade. Sua interpelação com o mundo e com o outro é mediada na e pela linguagem. Como organizadora da realidade, a linguagem está impregnada das maneiras de ver e de agir sobre o mundo de seus usuários, ecoando suas vozes e assumindo diversas formas e matizes em cada contexto, como sugere a perspectiva dialógica vista em Bakhtin (2006). Em sociedades predominantemente grafocêntricas, como são as ocidentalizadas na contemporaneidade, o sujeito se relaciona e se insere em diversas situações sociais, principalmente através do sistema simbólico da linguagem verbal escrita. O domínio das práticas que envolvem esse sistema faz-se essencial para que o indivíduo efetivamente interaja com a sociedade - para que possa integrar essa "cultura letrada". Há uma multiplicidade de maneiras de se estar letrado, pois há uma pluralidade de letramentos, conforme corroboram Soares (1998), Street (2010) e Barton & Hamilton (2000). Neste projeto entendeu-se que trabalhar com a apropriação do poético (compreendendo aqui "poesia" como todo fazer artístico, lírico, épico ou dramático, ou seja, qualquer criação literária) enquanto construção de sentidos, processo simbólico de significação do mundo, é também parte do processo de letramento a ser desenvolvido escolarmente. Pois, Cosson (2009) aponta que esse contato com a literatura (diferente daquele normalmente visto na escola) permite que se perceba como a própria realidade se organiza, e como o sujeito se coloca dentro dela. Pela escrita, mais do que leitor desse mundo, o sujeito também é um autor dele, modificando-o e sendo modificado por ele. Como narrativas de horror e terror representam campo fértil para a mimese dos medos de uma sociedade, e tomado que hoje se vive um momento de profusão de informações velozes e curtas, encontrou-se no microconto de terror um suporte para o ensino da escrita de maneira significativa - tanto em sua contextualização, quanto em sua ressonância afetiva com os estudantes, já que a "limitação" autoimposta pelo microconto, em sua contração extrema, representa um desafio à criatividade e à concisão do autor do texto. Nesse gênero, o autor precisa concentrar o máximo de informações com o mínimo de palavras, dizendo muito com pouco. Desse modo, com vistas ao desenvolvimento da escrita criativa e sucinta contextualizada nessas micronarrativas, em um primeiro momento, buscou-se ativar os conhecimentos prévios dos alunos sobre o gênero conto - do qual "nasce" o microconto, segundo estudos como o de Spalding (2008) - por meio da leitura e discussão de textos dessa sorte. A partir das discussões, o gênero microconto foi efetivamente introduzido aos estudantes em sua materialidade. Foram realizadas análises dos textos lidos, e também discussões sobre os seus temas (terror, horror, medos), e os alunos foram provocados a olharem para si mesmos em meio à reflexão e tentarem enxergar seus próprios medos e emoções projetados nas histórias. As aulas seguintes foram destinadas à produção textual. Inicialmente, os alunos rascunharam suas ideias, elaborando as primeiras versões de seus próprios microcontos de terror. Dessa primeira versão surgiram as segundas versões, elaboradas posteriormente à orientação da professora estagiária. As versões finais dos microcontos foram socializadas em turma, em uma roda de leitura de histórias de terror, e também em forma de fanzines (mini-revistas produzida em folhas A4), entregues aos alunos para troca, reprodução e distribuição desses volumes. Ao fim das seis aulas em que essa proposta foi desenvolvida, pode-se perceber que os microcontos de terror e horror podem fazer com que os sujeitos que os leem e escrevem se percebam como indivíduos inseridos em uma realidade na qual os medos (mais superficiais ou profundos) estão constantemente os atravessando e desafiando, colocando-os em situações de desconforto e incômodo, fazendo com que, ao se conhecerem, conheçam também mais dos outros. Todos os alunos participantes da atividade se mostraram capazes, com maior ou menor destreza, de se tornarem autores de textos sucintos em forma, e profundos em conteúdo. Pela palavra, esses alunos puderam superar os limites de certos mundos - porque limitados, afinal, pelas margens de um papel pequeno e pelas fronteiras de um gênero (hiper)breve -, e explorar as possibilidades da linguagem contida, talvez se percebendo enquanto autores de suas realidades, conhecedores de suas línguas e capazes de usarem dela para dizer o que desejam. Ao dizerem muito com pouco, espera-se que esses sujeitos também possam ter percebido que mesmo uma gota, pequena, tímida, ainda pode causar mudanças sobre uma superfície - e que suas vozes podem ser ouvidas por alguém para além dos seus professores. Palavras-chave: Prática Docente, Letramento Literário, Escrita Criativa, Microconto. Referências BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e filosofia da linguagem. 12. ed. São Paulo: Hucitec, 2006. ______, Mikhail. Discurso na vida e discurso na arte (sobre poética sociológica). Tradução de Carlos Alberto Faraco e Cristóvão Tezza, para uso didático. (Mimeo). s/d. BARTON, David; HAMILTON, Mary. Literacy practices. In: BARTON, David; HAMILTON, Mary; IVANIC, Roz. Situated literacies: reading and writing in context. London: Routledge, 2000, chapter 1, p. 7 -14. COSSON, Rildo. Letramento literário: teoria e prática. São Paulo: Contexto, 2009. SOARES, Magda. Concepções de linguagem e o ensino da Língua Portuguesa. In: BASTOS, Neusa (Org.). Língua Portuguesa, perspectiva, ensino. São Paulo: Educ, 1998. p. 53 - 60."
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Publicado em 03 de dezembro de 2018

Resumo

QUEM CONTA UM MICROCONTO DIMINIU UM PONTO: ESCRITA CRIATIVA EM MICRONARRATIVAS DE TERROR Claudia Valeria Lopes Gabardo / claudiagabardo1@gmail.com / UNIVILLE Marly Kruger de Pesce / UNIVILLE Nicole de Medeiros Barcelos /UNIVILLE Eixo Temático: Processos de Ensino e aprendizagem - com ênfase na inovação tecnológica, metodológica e práticas docentes. Resumo Este trabalho é resultado de um projeto de regência de Estágio Curricular Supervisionado apresentado como requisito parcial para a obtenção do título de licenciada em Língua Portuguesa e Língua Inglesa. As atividades presentemente em apreciação foram aplicadas com estudantes do oitavo ano do Ensino Fundamental e do primeiro ano do Ensino Médio de uma escola da Rede Pública Estadual de Santa Catarina, durante aulas de Língua Portuguesa E DE Língua Inglesa, no primeiro semestre de 2018. Com essa intervenção pedagógica, buscou-se desenvolver a escrita criativa e sucinta em ambas as línguas por meio do gênero microconto de terror, abrindo, assim, um espaço para a compreensão de mundo e expressão do sujeito aluno enquanto autor de sua realidade. Para tal, partiu-se da ideia de que o ser humano é um ser social, que modifica e é modificado por meio de suas interações com aquilo e aqueles que o cercam, constituindo-se como um sujeito (e agente) sócio-histórico de seu tempo e de sua realidade. Sua interpelação com o mundo e com o outro é mediada na e pela linguagem. Como organizadora da realidade, a linguagem está impregnada das maneiras de ver e de agir sobre o mundo de seus usuários, ecoando suas vozes e assumindo diversas formas e matizes em cada contexto, como sugere a perspectiva dialógica vista em Bakhtin (2006). Em sociedades predominantemente grafocêntricas, como são as ocidentalizadas na contemporaneidade, o sujeito se relaciona e se insere em diversas situações sociais, principalmente através do sistema simbólico da linguagem verbal escrita. O domínio das práticas que envolvem esse sistema faz-se essencial para que o indivíduo efetivamente interaja com a sociedade - para que possa integrar essa "cultura letrada". Há uma multiplicidade de maneiras de se estar letrado, pois há uma pluralidade de letramentos, conforme corroboram Soares (1998), Street (2010) e Barton & Hamilton (2000). Neste projeto entendeu-se que trabalhar com a apropriação do poético (compreendendo aqui "poesia" como todo fazer artístico, lírico, épico ou dramático, ou seja, qualquer criação literária) enquanto construção de sentidos, processo simbólico de significação do mundo, é também parte do processo de letramento a ser desenvolvido escolarmente. 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