PROJETOS DIDÁTICOS E A FORMAÇÃO DE PROFESSORES NO CURSO DE LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS DA UFC Elisabete Lino Cassiano Beserra/ bete_lc@hotmail.com/ Universidade Federal do Ceará Erika Freitas Mota/ erika.mota@ufc.br/ Departamento de Biologia-Universidade Federal do Ceará Área Temática: Formação inicial e continuada de professores A pedagogia de projetos traz para os professores e para os alunos uma nova visão acerca do conhecimento e da forma como organizar o trabalho escolar e na abordagem do tema, por valorizar a identidade e as experiências dos alunos num contexto social e cultural, ultrapassando os limites impostos pelo tradicionalismo contido no currículo e alcançando os diferentes conteúdos atitudinais, procedimentais e conceituais (ABREU, 2018). Essa forma de trabalhar possibilita o desenvolvimento de uma atitude reflexiva do aluno sobre o conhecimento e seu significado para a sua vida. Não se constitui em um método, uma vez que não trabalha com objetivos fixados, previstos e seguros. Ao contrário, o ensino-aprendizagem é apresentado num percurso que não é fixo, pois se abre para o desconhecido ao mesmo tempo em que se permite reformular as metas e os caminhos quando surgem novos problemas (ABREU, 2018). Dessa forma, entende-se que a pedagogia de projetos é uma concepção de ensino que exige uma nova postura por parte do professor e uma reflexão sobre a função da escola e promove a interdisciplinaridade. Nessa visão, fazer com que durante a formação o licenciando pense em projetos didáticos é salutar e pode promover o ensino-aprendizagem de forma significativa e compartilhada, permitindo alcançar uma mudança de postura face à prática pedagógica tradicional. No curso de Licenciatura em Ciências Biológicas da Universidade Federal do Ceará, as práticas como componente curricular estão distribuídas em disciplinas de instrumentalizações. Na Instrumentalização para o Ensino de Ciências III (IPEC III), uma das atividades propostas na disciplina é a elaboração de projetos didáticos (PD) que poderão ser aplicados posteriormente durante os estágios supervisionados. O presente trabalho tem como objetivo discutir sobre a elaboração dos PD na IPEC III, a diversidade dos temas escolhidos e a importância de PD na formação de professores de Ciências e Biologia. Para tanto, foi feito um estudo com os projetos elaborados pelos alunos de 2016.1 a 2018.1 e foram observados aspectos como as temáticas trabalhadas, a problematização, as estratégias propostas, culminância, dentre outros. No início de cada semestre, é feita uma explanação sobre a Pedagogia de Projetos, são estudados vários textos com propostas de projetos em diversas temáticas e são disponibilizadas coleções de livros didáticos do Fundamental II e Ensino Médio para que sejam consultados e observados os conteúdos por série. Depois de estudados todos os aspectos relevantes na elaboração de projetos, os estudantes são divididos em equipes e começam a pensar no projeto. As equipes recebem orientação ao longo de toda disciplina e são livres para a escolha do tema que pode ser curricular, extracurricular, transversal. É disponibilizado um modelo simples de projeto com os requisitos mínimos que devem estar presentes: identificação da proposta, público alvo, tema gerador, título, apresentação e justificativa, objetivos, conteúdos trabalhados, metodologia, cronograma, avaliação e culminância. Nos encontros presenciais, as dúvidas são esclarecidas e pontos para o planejamento dos projetos são esclarecidos. A proposta pode ser ou não interdisciplinar. No final de cada semestre, as equipes devem apresentar as propostas para os colegas de turma, avaliar a proposta apresentada pelos colegas e autoavaliar-se. Para esse trabalho, foram observados 55 projetos. A escolha dos temas foi bem variada e versaram sobre conteúdos curriculares, extracurriculares, temas controversos e transversais. Houve projetos para o Ensino Fundamental II, principalmente para 7º e 8º anos e outras para o Ensino Médio. Os temas escolhidos contemplaram grandes áreas como botânica, ecologia, educação ambiental, educação sexual, alimentação saudável, doenças parasitárias, prevenção à dengue, dentre outras. Há projetos com temas mais específicos, como o de uma equipe que propôs a aplicação numa escola rural de um projeto intitulado: "Tem sabor de mel: as abelhas e a conservação da Caatinga" que visava contribuir com o aprendizado de espécies nativas da Caatinga e a interação com comunidades de abelhas, contextualizando com a meliponicultura na região da escola. Podem ser citados outros títulos de projetos, que tinham como objetivo promover a criação e manutenção de hortas nas escolas: "Horta vertical na escola: um elo entre educação alimentar e sustentabilidade" e "Planta ação! Uma experiência de horticultura sustentável em escolas". Ainda outros títulos que podem exemplificar a diversidade de temas trabalhados ao longo desses últimos cinco semestres: "Lugar de lixo não é na escola"; "Vitaminando os maus hábitos alimentares"; "E agora, quem irá me defender? Doenças do cotidiano dos alunos; "Saúde do sistema nervoso: depressão e ansiedade são realmente coisas de sua cabeça?"; "Bainho é bom? Pois vamos economizar"; "Aedes Aegytpti: o fim da picada?". Podemos observar que os temas escolhidos pelos alunos são bastante diversificados, interessantes e criativos não apenas do ponto de vista do tema em si, mas pela forma como apresentam o título e o planejamento de atividades inovadoras. Ressalta-se também que a maior parte dos temas reflete uma problemática social, ao mesmo tempo em que permitem estratégias para pensar e repensar e propõem atividades a serem realizadas pelos próprios alunos e acompanhadas pelo professor, fazendo com que o conhecimento seja aprendido de forma prazerosa, criativa e transformadora da realidade em que aluno, professor e escola vivem. Os estudantes na IPEC III compreenderam que com a aplicação de projetos didáticos, os professores devem permitir que os alunos tomem decisões, debatam e construam sua autonomia e assim se transformem em cidadãos. Portanto, a Pedagogia de Projetos é mais que uma técnica de transmissão do saber, é, sobretudo, uma forma de refletir a escola, o currículo e a prática docente (BARBOSA, 1999). Nessa forma de ensinar, o aluno deixa de ser mero reprodutor do conhecimento, um sujeito passivo que se limita a copiar e aprender conforme o que lhe fora dito pelo mestre. O aluno é sujeito ativo que procura construir, criticar, dialogar e vivenciar a própria experiência de construir seu conhecimento (HERNANDES, VENTURA, 1988). As formas de avaliação propostas nos projetos foram também bem diversificadas: síntese, produções textuais, produção de glossários, seminários, participação e engajamento dos alunos, resposta a questionários e várias outras sugestões. Destaca-se ainda que os projetos didáticos propostos apresentaram como características comuns a busca pela identificação e compreensão de problemas socioambientais locais, com propostas de atividades que pudessem solucionar ou minimizar esses problemas. Nesse contexto, contribuíram para a formação docente, para o processo de construção da consciência ambiental e para o exercício da cidadania. Ademais, verificou-se pelos trabalhos que os futuros professores entenderam que podem aplicar de forma prática os conteúdos e que a escola também tem como função a formação de cidadãos críticos, ativos, participativos e autônomos. Palavras-chave: Formação de professores de Biologia, prática como componente curricular, projetos de ensino, IPEC III Referências ABREU, Iane Margareth. A pedagogia de projetos: o novo olhar na aprendizagem. Disponível em: . Acesso em 13 out 2018. BARBOSA, Laura Monte Serrat. O projeto de trabalho: uma forma de atuação psicopedagógica. Curitiba: Arins LTDA, 1999. 123p. HERNANDES, F. e VENTURA, M. A. Organização do Currículo por Projetos de trabalho. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.