: A pesquisa trata da relação de apego entre crianças abrigadas e seus cuidadores à luz da abordagem psicanalítica. Foi realizada em um abrigo na cidade de Sobral-CE entre 2016 e 2017. Buscou-se entender como a estruturação da função materna das crianças abrigadas repercute
nas relações estabelecidas entre essas crianças e suas cuidadoras em suas atividades cotidianas. Para além de se reafirmar a existência da transferência entre criança e cuidador, o trabalho descreve com
detalhe como se dá esse processo levando em consideração a dinâmica daquele abrigo em específico, as histórias de vida envolvidas no processo e as peculiaridades de um momento de mudança emblemático no histórico do abrigo - uma alteração quase completa no quadro de funcionários em virtude de uma seleção da prefeitura da cidade, implicando em quebra de vínculos e construção de novas relações, fatos que acrescentaram elementos consideráveis à pesquisa. Para tal, foram
utilizadas entrevistas semiestruturadas, observações sistemáticas, diário de campo, atividades lúdicas (como a brincadeira livre, o desenho temático). Como ferramenta de análise do material recolhido em
campo, foi empregada a análise de conteúdo, fato que resultou em três categorias de análise, resultado final da pesquisa. As categorias de análise são: "o abrigo é como uma casa pra mim", categoria em que se fala da relação que as crianças desenvolvem com o ambiente e com quem nele circula na perspectiva delas e de quem lá trabalha; "foi muito doloroso me desligar da cuidadora antiga" como categoria que versa sobre os vínculos quebrados com as cuidadoras que deixaram o quadro de
funcionários; "as crianças são como filhos" como categoria que traz a perspectiva das cuidadoras como pessoas implicadas nesse processo de apego, como via de mão-dupla.