A histórica dicotomia entre ideia e matéria perpassa as teorias filosóficas desde a antiguidade, gerando grandes debates e fundamentando diferentes concepções de mundo. Neste trabalho, limitamo-nos a perceber, de maneira sintética, resgatando em alguns teóricos da filosofia, como a tentativa de chegar ao conhecimento versou, conforme as devidas determinações do contexto, hora pela via da matéria, através da corrente de pensamento empirista; hora pela via das ideias, por meio da corrente racionalista. Realizado esse empenho inicial, passamos a analisar a segregação entre ideia e matéria diante da divisão social do trabalho. A partir da divisão da sociedade em classes sociais com interesses antagônicos, a máxima da dicotomia entre ideia e matéria toma uma forma distinta. Tal dicotomia não só cumpre uma determinada forma de pensar sobre o mundo, como passa a atuar na legitimação da sociedade de classes por meio da divisão social do trabalho em de um lado, trabalho intelectual e, de outro, trabalho manual. Por fim, tratamos como no contexto da sociedade de classes a educação é posta a cumprir o papel de reforçar essa diferenciação entre aqueles que vão se ocupar do trabalho material e aqueles que tratarão do trabalho intelectual. O aparato teórico-metodológico base do escrito é o onto-marxismo, partindo da premissa fundamental da centralidade do trabalho na fundação do ser social e dos complexos sociais que compõem a totalidade social (LESSA, 2007). Para aclarar a questão problema realizamos um estudo bibliográfico, em caráter mais demonstrativo e exploratório, onde nos debruçamos sobre os referenciais dos autores que realizam a crítica marxista ao sistema sociometabólico do capital. Destacamos que a construção teórico-metodológica de Marx consiste justamente em romper com a separação que acaba por colocar em lados opostos ideia e matéria, teoria e prática, ação e reflexão, sujeito e objeto. A proposta de Marx é de negação do determinismo presente no empirismo e no racionalismo, de maneira que percebe a realidade de forma dialética. Há uma realidade material, objetiva, que é desantropomorfizada e transcendente ao sujeito, mas que ele pode intervir e se apropriar, de modo que sua subjetividade passa a transformar essa realidade à medida que é por ela transformada num movimento que é sempre prático e teórico e, por sua vez, empírico e racional.