A vivência com o sagrado é historicamente representada através do contato mediado pelas religiões, seus livros e ritos. Hoje, porém, segundo Magalhães; Silva (2008, p. 159) ”já não vivemos mais num meio social no qual a religião exerce um poder totalizante e funciona como a única base na construção de identidades sociais, mas vivenciamos sim um espaço de identidades múltiplas e transitórias”. Nesse sentido, a experimentação subjetiva atravessa os limites do eu e chega a expressões sociais através da literatura, por exemplo. Eles continuam o raciocínio dizendo que a religião é uma das primeiras grandes linguagens de interpretação da condição humana, ou seja, o marcador da inteligibilidade do ser humano e de sua compreensão no espaço tem como marco inicial os textos que tratam de fé, religião e contato com o sagrado. Tendo o texto como objeto profícuo, o trabalho colocará, mais uma vez, em destaque, a relação tensa e ao mesmo tempo produtiva entre o literário e a Bíblia e isso será feito através da análise crítica do livro A mulher que escreveu a Bíblia (1999) de Moacyr Scliar. A narrativa traz para a leitura uma protagonista feminina que não faz parte dos padrões da época e os padrões aqui aferidos não fazem relação somente com a estética, mas também aos padrões de passividade alocados ao gênero. Toda essa quebra se dá dentro de um ambiente extremamente fechado e patriarcal onde Salomão é rei social e local, dono de todas as mulheres.