O presente trabalho é um recorte da pesquisa que resultou na dissertação de mestrado intitulada Relações de gênero no contexto do programa de educação integral (PEI): os desafios dos conteúdos da jornada ampliada, que teve como um dos objetivos refletir sobre o tempo pedagógico destinado aos jovens, de acordo com as relações de gênero, nas atividades de sala de aula e externas à sala de aula de uma Escola de Referência em Ensino Médio. Trata-se de uma pesquisa qualitativa e utilizou-se os seguintes instrumentos de coleta de dados: observação participante registrada em diário de campo e entrevista semiestruturada. A interpretação dos dados foi fundamentada na Hermenêutica Dialética. A análise dos dados revela que o tempo pedagógico destinados aos/as jovens na Escola de Referência em Ensino Médio em que o estudo foi realizado foi bem marcado pelas relações de gênero. As atividades dirigidas e não dirigidas realizadas em sala de aula e externas a esse recinto revelaram marcas de uma construção histórica e social desigual de gênero. A organização/disposição dos/as estudantes na sala de aula observada, expõe, de imediato, a demarcação dos espaços masculinos e femininos. Nas observações em sala de aula pudemos identificar a existência de “brincadeiras” sobre a sexualidade/orientação sexual de meninos, feitas por meninos e meninas, quando estes não se comportavam de acordo com o que a sociedade atribui como sendo próprio do seu gênero. A separação entre meninas e meninos também foi identificada no pátio da escola durante todos os dias de observação, bem como uma frequência de atitudes de assédio sexual neste local, sobretudo no horário do lanche, sempre dos meninos em relação às meninas. Tendo em vista essas questões identificadas, não há na realidade observada, mesmo com a ampliação da jornada escolar para o tempo integral, uma ênfase em desconstruir as desigualdades de gênero.