Esta comunicação tem por objetivo analisar livros didáticos sobre história do Espírito Santo, e como eles retratam o movimento agrário no noroeste do estado, mais precisamente o Movimento Udelinista. Foi feita uma comparação das representações apresentadas pelos livros didáticos com as pesquisas historiográficas. O Movimento Udelinista foi o pioneiro na região, e consistia em um movimento agrário, ocorrido em uma vila chamada Cotaxé que se localizava na região de litígio entre os Estados do Espírito Santo e Minas Gerais, no final da década de 1940 e início da década de 1950. O movimento objetivava garantir a permanência dos posseiros na região, e garantir também o acesso à terra àqueles que ainda não a possuíam. É possível encontrar interpretações que comparam o Movimento Udelinista com Canudos, liderado por Antônio Conselheiro, atingindo o imaginário local e chegando aos materiais didáticos.
Foram encontrados apenas dois livros que tratam do assunto, um deles é o História e Geografia do Espírito Santo, material de maior circulação no Estado do Espírito Santo sobre a história e a geografia local, foi escrito por Thais Helena Moreira e Adriano Perrone. Esse material é voltado para alunos do ensino médio e para estudos pré-vestibulares . Encontramos também citações sobre o Movimento Udelinista no livro História do Espírito Santo para as turmas de 5º ano do ensino fundamental, de autoria de Augusto Gomes Silva Filho.
No primeiro livro é possível encontrar uma representação messiânica do movimento e de que ele queria construir um novo estado na região. De acordo com essa representação, os posseiros, insatisfeitos com a ausência de forças estaduais queriam criar um novo estado na região, denominado “Estado de União de Jeová”, onde seu líder, Udelino Alves de Matos era um pregador, uma espécie de líder religioso, caracterizando assim um movimento messiânico.Já o segundo livro analisado, voltado para o quinto ano do ensino fundamental, a representação é outra. No livro não há referência sobre o caráter religioso de Udelino, nem cita a criação de um novo estado. Silva Filho enfatiza que Udelino era alfabetizador e não cita nenhum caráter religioso, nem mesmo cita a tentativa de criação do Estado União de Jeová, defendido por muitos autores.
Os dois livros didáticos ilustram o conflito de representações existente acerca do Movimento Udelinista, afinal. É possível que os grupos tenham lutado para criar e permanecer uma representação que favoreça a sua luta. Para a análise dessas diferentes interpretações, utilizamos o conceito de representação apresentado por Roger Chartier, e também trabalhado por Peter Burke. Chartier chama a atenção para as lutas de representação, importante no processo de dominação.