O presente trabalho trata-se de um relato de experiência como assistente social em uma escola da rede municipal de João Pessoa-PB, origina-se por meio de um dos eixos-temáticos do Projeto Fazendo Acontecer, o supracitado projeto possui seu nascimento no ano de 2015, ano cujo, por meio de concurso público fui empossada para exercer a função de assistente social escolar. Ao fazer leitura do projeto político-pedagógico da unidade de ensino, do regime interno e dos projetos interdisciplinares; sentiu-se a necessidade junto ao corpo docente, equipe de especialistas (assistente social, orientador educacional, supervisor escolar e psicólogo), gestão e corpo discente da discussão de temas que perpassam o cotidiano escolar, como: trabalho infantil, bullying, gênero, corpo humano, identidade, família, e outros assuntos que são de suma relevância no âmbito escolar. Na oportunidade tem-se a intenção de discutir sobre as relações étnico-raciais, deixando os demais assuntos para outros momentos de socialização de relatos de experiência. Tendo em vista o papel do assistente social como profissional que possui em seu código de ética “o empenho na eliminação de todas as formas de preconceito, incentivando o respeito à diversidade, à participação de grupos socialmente discriminados e à discussão das diferenças” (1993, p.03), foi idealizado e materializado no decorrer de 2015, 2016 e atualmente em 2017 ações que promovam e incentivem o respeito à diversidade. Como recorte para este relato apresenta-se as ações propostas no primeiro bimestre do corrente ano, a escola em tela oferta o ensino infantil e fundamental I, durante a manhã e a tarde e localiza-se no Bairro dos Novais. Como primeiro eixo do projeto para este ano, decidiu-se debater as relações étnico-raciais na escola, uma vez que a temática pode ser considerada como assunto transversal que perpassa o dia a dia da comunidade escolar sendo assim a equipe de especialistas da escola iniciou um processo de planejamento, estudo e pesquisa documental de materiais que auxiliassem a construção de oficinas para turmas da pré-escola ao 5º ano, como também para os educadores. Essa primeira etapa foi bastante rica e proveitosa, pois aprendemos e conhecermos mais sobre racismo, preconceito, discriminação, etnia, raça, dentre outros.
Após a análise do material e no intuito de realizar uma interface com o projeto de leitura “viajando nas asas da leitura”, decidiu-se que cada oficina para os estudantes seriam iniciadas com uma leitura de um livro, prosseguindo de uma roda de conversa e encerrando com a produção textual ou de desenho sobre a discussão realizada. Os livros que utilizamos foram: A princesa e o sapo (Educação Infantil), O Cabelo de Lelê (1º ao 3º ano) Lenda Brasileira do Uirapuru (1º ao 3º ano) e Minha mãe é negra sim (4º e 5º ano). Tem-se o entendimento de que o educador deve promover momentos de reflexão alicerçado em princípios de identidade, diversidade, consciência política e de práticas que enfrentem o racismo e todo tipo de discriminação (SANTOS, 2013). No momento de leitura as crianças e adolescentes ficaram com olhos bem fixos, observando as imagens dos livros e totalmente envolvidos nas histórias narradas. Ao final da leitura realizada, fizemos algumas perguntas, como: título da história, nome dos personagens e atitudes, com a finalidade de identificarmos a compreensão dos educandos sobre a leitura. Em um segundo momento, fizemos uma roda de conversa a respeito de preconceito, discriminação, racismo, diferença e principalmente sobre respeito à diversidade, como também a respeito das contribuições do povo africano e do povo indígena para nossa cultura, religião, alimentação, esporte, costumes, dentre outros. As crianças e adolescentes tiveram grande dificuldade em se identificar como negros, em sua maioria se autodenominaram como “morenos”; “pardos”; “cinza”; “marrom”, o que nos leva a refletir sobre a construção da identidade e a respeito das dificuldades que o povo negro enfrenta no dia a dia, ressaltamos neste segundo momento personagens de filmes infantis como: Moana; Tiana; Mulan; Pocahontas, atrizes e atores de novelas, cantores, dentre outros. Os educandos tiveram a oportunidade de falarem sobre o assunto e se já sofreram algum tipo de preconceito ou discriminação racial, a maioria disseram que não, o que nos levar a refletir sobre o medo e o receio em falar do que já foi vivido, preferindo se calar diante do preconceito, contudo relataram que já viram cenas de racismo, em novelas, como Chiquititas, no futebol, no caso do jogador Daniel Alves, com a cantora Ludmila em um jornal de grande audiência nacional e com colegas de classe através de palavras depreciativas, como “macaco”, “cabelo de bucha”, os professoras das turmas também puderam expressar suas vivências, a exemplo da professora do 5º ano, que relatou que ao tentar pela segunda vez uma seleção de mestrado a funcionária olhou para ela e disse “você aqui de novo”. Consideramos que momentos como este são essenciais na escola, haja vista fomentar a cultura do respeito à diversidade e ao combate a todo tipo de prática que segrega e exclua o outro. Ao final solicitou-se a opinião das crianças e dos adolescentes sobre o assunto, suas vivências, suas observações em forma escrita ou em desenho para aqueles que ainda estão no processo de aquisição da linguagem escrita. Vale salientar que o debate sobre estes temas não se encerra em um primeiro bimestre e sim são contínuos e devem ser sempre discutidos, todavia para organização e sistematização do projeto elencamos as relações étnico-raciais como primeiro eixo. Para os educadores foi pensada uma ação conjunta à equipe da Coordenadoria LGBT e de igualdade racial da Prefeitura de João Pessoa-PB, no tocante a ministrar uma palestra para os educadores da escola em um dos planejamentos quinzenais que ocorre em na unidade, prontamente a equipe atendeu o convite e agendou a data para a palestra. Na oportunidade a equipe falou sobre a história e cultura dos povos africanos, da Lei nº 11.645 de 2008 que acrescenta na Lei de diretrizes e bases da educação nº 9.394/1996 o ensino dos conteúdos referentes à história e cultura afro-brasileira e dos povos indígenas brasileiros, sendo estes vistos em todo o currículo escolar, em especial nas áreas de educação artística e de literatura e história brasileiras, bem como sobre a Lei nº 12.288 de 2010 que trata do Estatuto da Igualdade Racial, a equipe trouxe dados do Censo a respeito da mortalidade juvenil dos negros, acesso a educação superior e do sistema prisional, este momento foi muito rico e valioso, sendo marcado pelas falas dos educadores sobre as suas vivências em sala de aula, a respeito de como tem sido o trabalho acerca da história e cultura afro-brasileira e dos povos indígenas, a exemplo de momentos de leitura através dos livros: Menina bonita de laço de fita, Ninguém é igual a ninguém, Bruna e a galinha d´angola, Minha família é colorida e outros que fazem parte do nosso acervo bibliográfico, produção textual sobre diferença, preconceito, discriminação, recorte e colagem, trabalho com jornais e revistas. Havendo uma troca entre os professores, gestão, especialistas e equipe da coordenadoria, culminando em novos conhecimentos e novas ideias para a construção de planos de aula que promovam a inclusão, a igualdade, a diversidade e o enfrentamento ao preconceito, racismo e a discriminação. Ao final foi realizada uma oficina de turbantes com os educandos do 4º ano, na ocasião os alunos se divertiram bastante e aprenderam a fazer nos colegas as amarrações. Esta oficina caracteriza-se como o momento que ressalta a beleza negra e acresce a autoestima das crianças e adolescentes, tendo em vista que após a oficina os alunos fizeram um ensaio fotográfico intitulado “enraizando” que se encontra disponível em rede social para toda comunidade escolar. Concluímos que o trabalho foi bastante significativo para todos os envolvidos, já que este abriu novos horizontes, ressignificou vivências, aumentou a autoestima e incentivou o respeito à diversidade.