Ao tornar obrigatório o ensino da História e Cultura Africana e Afro-brasileira nas escolas de todo o país, a Lei 10.639/03 também obrigou o Estado a reconhecer a necessidade de implantar políticas públicas voltadas à população negra, tornando-se um marco na Educação Brasileira. Enquanto professoras de escolas públicas do Município de Recife, percebemos que os debates e as ações em torno desta Lei ocorrem timidamente nas escolas, em situações pontais ou a partir da motivação pessoal de algumas professoras negras e militantes. A partir dessas observações, desenvolvemos este estudo ,cujos objetivos são: Compreender como a identidade das professoras negras, interfere em suas práticas pedagógicas, com vistas à promoção da igualdade étnico racial no ambiente escolar. Também pretendemos verificar se o autorreconhecimento das professoras enquanto mulheres negras interfere na construção de uma identidade positiva de seus estudantes negros e negras. Partimos da hipótese de que essas profissionais, por se reconhecerem negras, desenvolvem práticas diferenciadas daquelas que não se reconhecem como tal e por esse motivo suas práticas pedagógicas tendem a voltar-se para a promoção de uma Educação das Relações Étnico-Raciais. Realizamos uma Pesquisa Qualitativa, de caráter explicativo, envolvendo 21 professoras dos Anos Iniciais de escolas municipais do Recife ,que responderam um questionário semiestruturado contendo cinco questões sobre o tipo de instituição que promoveu sua formação, qual a formação delas, como se identificam quanto a sua cor/raça, se têm conhecimentos acerca da Lei 10.639/03 e quais as atividades que elas desenvolvem na escola, com ênfase nesta lei. Com os resultados obtidos, constatamos que a maioria das participantes se reconhece como negra, mas esse autorreconhecimento não é determinante para a realização de práticas pedagógicas com ênfase na promoção sistemática de uma Educação das Relações Étnico-Raciais. Algumas delas ainda necessitam agregar um caráter mais estruturante às suas ações, pois muitas são pensadas e desenvolvidas como consequência de culminâncias ou vivências de projetos ligados as datas comemorativas, desenvolvidas nos meses de maio, agosto e novembro . Constatamos que as práticas pedagógicas com ênfase na Lei 10.639/03 não são prerrogativas apenas das professoras negras, pois as que se declararam brancas também desenvolvem ações a partir desta Lei. Finalmente, verificamos que a Lei 10.639/03 é bastante conhecida pelas docentes participantes da pesquisa e concluímos que a carência de investimentos ou a pouca oferta de formação inicial e continuada, sobre essa temática, aos docentes da Rede Municipal de Ensino do Recife ,é seu maior entrave.