Desde os tempos antigos as populações humanas têm estabelecido estreitas relações com os recursos naturais, uma vez que os mesmos são as principais fontes de subsistência e rendimento financeiro nos dias atuais. A etnoictiologia estuda as interações entre as sociedades humanas e o grupo dos peixes e como o conhecimento sobre comportamento, fisiologia e morfologia, produto dessa interação, é construído. A atividade pesqueira, até então executada em pequena escala durante longos períodos, passou a exercer forte influência na economia brasileira a partir do aumento de sua produção em algumas regiões do país no início do século XX. Considerando a contribuição da pesca artesanal tanto no âmbito econômico, quanto cultural e a importância das comunidades ictiológicas para os ecossistemas, bem como recurso disponível, tem se observado nos últimos 5 anos, especificamente no semiárido paraibano a vulnerabilidade dos corpos hídricos e sua biodiversidade em função do prolongado período de estiagem. Em resposta à diminuição do volume de água nas regiões menos úmidas do país, foi proposto pela primeira vez em 1847, o Projeto de Integração do Rio São Francisco com as Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional, o mesmo tem como objetivo principal aumentar as demandas hídricas urbanas, industriais, de irrigação e de uso difuso ao longo dos canais e açudes da região. Apesar dos inúmeros benefícios resultantes do projeto da transposição, a ictiofauna do semiárido já vulnerável pelo histórico de seca, açudagem e introdução de espécies, torna-se suscetível à relevantes impactos, como a possível modificação na composição da comunidade e perda de diversidade de espécies nativas, além da possibilidade do estabelecimento de espécies invasoras. Desse modo, o presente trabalho tem como objetivo analisar a percepção das mudanças e dos principais desafios em relação à comunidade de peixes por parte dos pescadores. Tratou-se de um estudo de natureza descritiva-analítica, onde foram realizadas entrevistas informais com pescadores de reservatórios da Bacia do Rio Paraíba, a qual refere-se como método durante momentos de observação participante. Os pescadores demonstraram conhecer nitidamente as condições necessárias e características das comunidades de peixes, todavia, no que diz respeito à conservação esse conhecimento tem sido ignorado uma vez que entra em conflito com a necessidade de sobrevivência humana. Verifica-se assim a necessidade de investimentos governamentais em implementação de planos de manejos que visem fornecer o suprimento dessas comunidades amenizando os impactos à biodiversidade ictiológica.