Nas últimas décadas, as Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs), em especial o computador e o acesso à internet, ganharam cada vez mais espaço nas empresas e na vida das pessoas. Contudo, a expansão e o avanço dessas tecnologias não se deram de maneira igualitária, principalmente quando se tem como referência o espaço rural. A formação de agricultores familiares, no contexto agrícola em que vivem, por exemplo, revela-se pouco comum e, portanto desafiadora, principalmente para aqueles que vivem em comunidades rurais do Semiárido brasileiro. Muitos desses trabalhadores, além de vivenciarem desafios inerentes às próprias características regionais encontram-se à margem dessas TICs. Entretanto, novas iniciativas de inclusão digital e social vêm sendo desenvolvidas pela Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA), através do programa de extensão Estruturação de Telecentros e Casas Digitais e Formação de Multiplicadores em Comunidades Rurais de Municípios do Semiárido Potiguar - Semiárido Digital. Dessa maneira, o objetivo desse trabalho é analisar o processo de construção do material didático para subsidiar os cursos de agricultura familiar, a ser ofertado na modalidade à distância, tendo em vista que foi construído após o diálogo e identificação de interesses dos próprios agricultores familiares. Essa análise instiga a refletir sobre: Como se constituiu o processo de elaboração do material didático para a o curso de agricultura familiar oferecido pelo Semiárido Digital? As temáticas desenvolvidas vão ao encontro dos interesses e necessidades apontados pelos agricultores participantes, e os direcionam para um desenvolvimento endógeno? E, como essa relação universidade-agricultura familiar, e seu reverso, se constitui numa dinâmica de reflexividade? Evidenciou-se que o Programa Semiárido Digital, através dos cursos à distância sobre agricultura familiar, colabora para o desenvolvimento cognitivo e prático dos agricultores familiares e para a valorização das experiências e recursos locais, desencadeando uma iniciativa para o desenvolvimento endógeno. Apreende-se, ainda que a metodologia utilizada para a construção do referido curso, representa a dinâmica da reflexividade, pois evidencia que o processo de interação entre os agricultores familiares e a Universidade é reflexivo onde um atua no outro sem que haja necessariamente rupturas de tradições, mas que permite que estas sejam ressignificadas.