Este estudo análisa o desmatamento determinado pela implantação da transposição do São Francisco e as implicações sobre a medicina indígena, os rituais, a culinária e a saúde, Semiárido pernambucano, no povo Pipipã, Floresta, Pernambuco. A Organização Mundial de Saúde conceitua a saúde como um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não somente a ausência de doenças e enfermidades, entendendo a importância do uso milenar das plantas nativas pelos povos indígenas, como constituinte do conceito multidimensional de saúde. Realizou-se um estudo de caso de caráter sistêmico e foi usada a abordagem qualitativa de pesquisa. Os dados primários foram obtidos a partir da observação participante e de entrevistas individuais. O estudo foi realizado no período 2015 a 2017, no território Pipipã, Floresta. A população do estudo foi o povo Pipipã que habita território considerado diretamente afetado pelas obras da transposição do São Francisco. Os resultados demonstraram que o povo Pipipã historicamente utilizou as plantas nativas da caatinga para diversas finalidades: a) aroeira, ameixa, imburana de cheiro, bonome, marmeleiro, quixabeira, macela, alecrim, embiratanha, erva doce, pau ferro, espinhaço de cobra e pau d’alho, para curar e prevenir doenças e enfermidades; b) o croá: planta cuja fibra é usada para a fabricação dos saiotes utilizados na dança do Toré; c) a juremeira: usada para fazer o vinho que é servido durante o ritual da Jurema; d) a macambira: usada para alimentar os animais e na produção da farinha para alimentação humana; f) o umbuzeiro: usado na alimentação humana, entre outras plantas. O desmatamento determinado pela transposição afetou a medicina indígena, a culinária e os rituais de Toré, da Jurema e do Aricuri, agravando as condições materiais de vida do povo Pipipã. Essas ações violentas, na implantação da transposição, violaram a Constituição Federal de 1988 e o Art. 2º da Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos indígenas, onde prioriza a sustentabilidade nos territórios indígenas e reconhece o valor sobre o uso das plantas nativas por promover, proteger, recuperar e produzir a saúde dos povos. Associado a esses fatos, registram-se o descumprimento dos compromissos firmados no Programa de apoio aos povos indigenas, do Ministério da Integração Nacional, relativo à realização das ações mitigadoras específicas de implementação de viveiros de mudas. Estes processos violentos sobre as relações e modos de vida dos Pipipã, impostos pelo Estado, determinaram processos de adoecimento, na forma de depressão, entre os índios Pipipã.