Introdução. O trabalho com grupos na atenção primária pode se configurar como uma alternativa potente e criativa para as práticas assistenciais. A partir do manejo adequado os grupos permitem organizar os processos de trabalho e ampliar a capacidade assistencial, sem perda de qualidade. Toma-se, neste trabalho, o corpo em movimento como norte de uma perspectiva não-hegemônica de produção do cuidado visto que grande parte da energia necessária para as transformações da personalidade está ligada a bloqueis somáticos, sintomas físicos. Objetivo. Promover reflexão sobre trabalho criativo no contexto de uma Unidade Básica de Saúde, através de grupo de relaxamento e meditação. Metodologia. Com a músicas tranquilas ao fundo era proposta uma sequência de alongamentos simples, em que era destacado o ato de se atentar para o ritmo da respiração a cada movimento. Em geral, começávamos por um alongamento multidirecionado do pescoço, depois um movimento circular, em ambos os sentidos. Então, íamos para a sequência específica daquele dia, que poderia ser alongamento focalizado nos ombros e braços – ou nos joelhos e pés – ou na cintura e costas. Na sequência, era proposto que todos se deitassem em suas toalhas, relaxassem o mais que pudessem os corpos e fechassem os olhos, buscando sentir o que havia mudado em suas mentes e corpos em relação ao início da atividade. Depois disso, quem desejasse, poderia expor o que estava sentindo no fim do relaxamento em comparação ao que estava sentindo no princípio da atividade. Resultado. É preciso superar a ideia de que o/a trabalhador/a se reduz a mero sujeito funcional, que realiza de forma eficiente suas funções. Exercício de criatividade foi, então, trazer à tona para o cenário da UBS a oferta desta tecnologia de baixo custo e reconhecida efetividade: as técnicas de respiração aprofundada e meditação. As intervenções propostas neste grupo foram baseadas no protagonismo deste trabalhador, que levou em consideração as dificuldades a serem superadas como potência geradora para ações alternativas. Levanta-se aqui a hipótese de que o trabalho com a consciência corporal de usuários e usuárias contribuiu para o exercício da integralidade do cuidado em saúde. Considera-se que este fenômeno se deu em dois planos. Num primeiro, pela ampliação de perspectiva de trabalho do próprio profissional psicólogo, que trouxe para a cena terapêutica os corpos que adoeciam – e não apenas as falas sobre os corpos que adoeciam. Em outro plano, nas intervenções de outros profissionais da equipe, que passaram a incorporar a oferta do grupo de relaxamento como parte do processo terapêutico de muitos usuários/as atendidos/as. Isso demonstra abertura da equipe para outras perspectivas de ações em saúde mental. Conclusões. Devem-se aumentar os relatos de práticas integrativas e complementares em saúde, para que sem amplie uma rede mais propositiva e menos queixosa sobre os processos de trabalho em que nós nos inserimos. É preciso se criar a prática de visibilizar, reconhecer, valorizar e publicizar experiências exitosas. Assim, se produz uma reverberação de ideias que podem ser criativamente reinventadas nas diversas realidades de atuação.