O campo da psicoterapia, tradicionalmente, privilegiou a fala como modo cura. As palavras, porém, não exaurem as possibilidades de significação da experiência humana. A atenção que tem sido dada ao corpo na atualidade, o crescimento das psicoterapias corporais e o fortalecimento das Práticas Integrativas e Complementares nos levam a questionar os limites da linguagem verbal e a vislumbrar as potencialidades de um trabalho voltado para o corpo na psicoterapia. As Práticas Integrativas e Complementares já apontam a não separação entre corpo e mente e, comumente, exploram a capacidade auto curativa e auto organizadora dos corpos, estando em consonância com os pressupostos das psicoterapias corporais. Totton (2003) apresenta diferentes abordagens dentro do campo das psicoterapias corporais, que tem Wilhelm Reich como precursor. O autor coloca a Dança-Movimento Terapia como um tipo de psicoterapia corporal pertencente ao eixo das abordagens expressivas. Seguindo a lógica da qualidade expressiva da dança, Stanton-Jones (1992) localiza a Dança-Movimento Terapia como uma vertente da arte-terapia, assim como as abordagens que privilegiam as artes plásticas, a música ou o teatro. Dentro deste contexto, o interesse desta pesquisa volta-se para a exploração, a partir do ponto de visto do cliente, da potencialidade terapêutica de psicoterapias que privilegiam o trabalho corporal, sobretudo, focando em abordagens que trabalham com dança e movimento. Diferente de uma terapia convencional, onde os insights são alcançados através de sucessivos reajustes na narrativa dos clientes, nos trabalhos com dança, os exercícios e movimentos geram transformações que muitas vezes não são compreendidas no exato momento em que ocorrem. Buscaremos, portanto, compreender que processos terapêuticos se dão nas terapias que se utilizam da dança e movimento, gerando transformações para os clientes, investigando, assim, a possibilidade de dar inteligibilidade à experiência humana para além da linguagem verbal. Pesquisaremos diversas abordagens que privilegiam o movimento como forma de expressão, comunicação, organização e significação, entre elas, a Dança-Movimento Terapia (cunhada por Marian Chace), Movimento Autêntico (por Mary Whitehouse), Biodança (por Rolando Toro) e Danças Circulares Sagradas (por Bernhard Wosien). Para investigar o processo de construção de significado a partir do corpo e compreender de que forma um trabalho corporal, em psicoterapia, se faz transformador, recorreremos ao relato de clientes e profissionais com experiências em terapias corporais, além da observação e participação em grupos terapêuticos. Para tanto, utilizaremos entrevistas semiestruturadas que obedecerão a uma estrutura inspirada no Círculo Hermenêutico. Na prática, as entrevistas ocorrerão de forma circular, onde um entrevistado tece comentários a respeito da entrevista anterior. Teremos, ainda, as observações dos grupos acompanhados através de diário de campo. O método aqui utilizado será a observação-participante, no qual a pesquisadora participará dos encontros como uma integrante regular de dois diferentes grupos de dança, com bases distintas. Essas observações, assim como as informações colhidas no círculo hermenêutico, serão processadas através da Análise Temática e interpretadas à luz da Teoria Experiencial de Eugene Gendlin, produzindo, assim, conhecimento sobre a sabedoria corporal e sua capacidade inata de cura e expressão.