Tratar sobre práticas de cuidado em saúde é abordar sobre os processos intersubjetivos que implicam também em saberes, cosmologias e biotecnologias. Este trabalho utiliza a abordagem antropológica para pensar o imbricamento desses aspectos tão inerentes aos processos saúde-doença. Partindo de uma pesquisa etnográfica com uma interlocutora chamada Francisca, também conhecida como mulher das ervas ou Doutora Raiz, pelo conhecimento sobre as plantas medicinais da região, pela capacidade de manipulá-las com maestria, facilitando assim os processos de cura de pessoas da comunidade. Para compreender essa realidade social complexa, que envolve a multidimensionalidade da experiência de vida de uma pessoa a metodologia utilizada foi a trajetória de vida, que permitiu perceber a situação de uma maneira histórica, localizada e situacional a partir das narrativas da interlocutora que deixa evidente em suas falas a importância do conhecimento e da fé. Nos fazendo notar que se trata de um saber-fazer (DE CERTEAU, 1994) que também pode ser percebido enquanto saber local (GEERTZ, 2009), marcado pela prática não institucionalizada, mas amplamente reconhecida, esses saberes e práticas são possíveis pela vigência de um sistema de crenças e de tradições de cuidado e por uma latente desigualdade social. Tal situação nos leva a pensar a interação entre esses sistemas de saberes nos processos de cura a partir da vivência de uma pessoa que é conhecida como especialista terapêutica e que também vivencia a experiência da doença (LANGDON, 2014), nesse caso crônica – Artrite Reumatóide. Estabelecendo assim um itinerário terapêutico marcado pela interação entre o saber local da tradição e da medicina científica. Ao mesmo tempo em que torna evidente a importância do acreditar e da fé nos processos de cura, assim como do conhecimento sobre as ervas da terra. De tal forma que essa pesquisa se volta para a percepção desse sistema local de saber (SHIVA, 2003) que em fusão ao sistema biomédico proporciona uma eficácia terapêutica (TAVARES, BASSI, 2012), nos atendo então a compreender a partir dos relatos de vida (ALBERTI, 2004) como tais práticas interagem, quais terapêuticas são preteridas nas experiências da doença ocorridas, e em especial, no caso da sua trajetória de vida de Francisca, quais e como os saberes e práticas de cuidado emergem a partir da vivência com uma doença crônica e degenerativa como a Artrite Reumatóide.