As obras literárias, na escola, podem ser importantes veículos da cultura, da reflexão sobre a ética
nas relações sociais e de poder, como ainda na construção e reconstrução identitária. Nosso objetivo
neste trabalho é analisar, através da obra “Minha mãe é negra sim” de Patrícia Santana
(SANTANA, 2008), o lugar da educação (escolar e não escolar) na construção identitária da criança
negra. O livro conta a história de um menino negro que enfrenta o racismo na escola ao realizar
uma atividade e é impedido de retratar a imagem negra da sua mãe. Utilizamos como referencial
teórico a psicologia cultural na perspectiva de Bruner (2001) e a análise textual dos discursos
(ADAM, 2008; RABATEL, 2016). Verificamos que o livro procura apresentar ao leitor uma
progressiva compreensão das relações raciais através da assunção da identidade negra, partindo da
problemática do estigma da cor. Para tanto, a educação familiar e intergeracional são cruciais na
construção do sentimento de pertencimento, contrapondo-se ao saber legitimado e autoritário da
escola. Concluímos que a análise crítica do texto pode favorecer um olhar mais amplo sobre a
formação educacional escolar e não escolar, em suas possibilidades e limitações, e sobre a
necessidade da assunção da identidade negra (docente e discentes) a partir de saberes não
legitimados (BOURDIEU, 1998).