Nos estudos sobre o processo de aquisição e de aprendizagem de segunda língua (L2) e de língua adicional (LA), a proposta acerca da existência de um sistema linguístico entre a língua materna e a língua-alvo, interlíngua, foi acatada a partir de evidências demonstradas nos estudos de Pit Corder (1973) e de Selinker (1972). Como se sabe, o termo refere-se a um sistema linguístico intermediário, cujo estágio inicial se aproxima do idioma materno e vai evoluindo em direção à língua que se pretende adquirir ou aprender, perceptível em manifestações de cunho fonético-fonológico, lexical, sintático. Portanto, esse sistema foi e é considerado sempre no aspecto linguístico-estrutural. Com as recentes pesquisas nas áreas de texto e de discurso e das teorias de letramento como prática social, o gênero textual vem sendo considerado um objeto de análise por diversas disciplinas, o que tem repercutido sobremaneira em contextos das práticas de letramento, inclusive naquelas situadas em ambiente educacional, tanto no âmbito de L1 como de LA/L2. A compreensão é a de que falar e escrever em uma língua passa necessariamente pelo domínio de gêneros. Em outras palavras, quanto mais se sabem gêneros, mais proficiente se torna linguisticamente. Partindo dessa premissa, venho propondo a seguinte reflexão: se é verdade que existe um sistema intermediário, uma interlíngua, nos processos aquisição e de aprendizagem linguística, a qual já não é mais a língua materna, mas também não é a língua-alvo, é plausível também afirmar que ela vai além de sua configuração estrutural, pois possibilita as interações em diversos momentos desses mesmos processos, tendo em vista que as pessoas não interagem por estruturas isoladas. Esses modos de se expressar, de agir linguisticamente, de interagir, a exemplo do que ocorre com a interlíngua, não se manifestam mais como gêneros da língua materna, também ainda não são os gêneros da língua-alvo; ao que tudo indica, parece tratar-se de intergêneros, ações em que a interlíngua se configura, como estratégias linguístico-cognitivas de comunicação de que os aprendizes de uma L2 e de LA se valem para interagirem. É, nesse sentido, cognitivo-social, que estou propondo uma configuração intergenérica, o que difere, em certa medida, do conceito proposto por Marcuschi de intergeneracidade, cujo foco são textos híbridos de L1. O aporte teórico está fundamentado na sociocoginição de Vygotsky (1998), Johnsons (2003), Morato (2002, 2010), Marcuschi (2007), e em estudo de Ramos (2007) e de Fernandes (2016), os quais, partindo de um vasto campo teórico que concebe o gênero como prática social, estão voltados especificamente para o contexto de LA/LE. Esta apresentação parte de resultados de pesquisas qualitativas de cunho interpretativista sobre a produção escrita de estudantes de graduação e de pós-graduação da Universidade de Brasília, originários de outros países. Os achados nessas produções têm conduzido à crença de que existe configurações de intergêneros na aprendizagem do português como língua adicional.