O acesso à pornografia implica, não raras vezes, um rito pedagógico, onde o véu da sexualidade rasga-se em múltiplas performances, instruindo os seus usuários sobre a potência devastadora do contato com o Outro. Enlear-se em suas redes e perder-se em seus territórios é algo, ao mesmo tempo, vivificador e mortífero. O viço talvez esteja no encontro fantasmático com cenários e sujeitos que despertam antigas paixões, num laço, conquanto efêmero, capaz de conduzir a uma via significante de gozo. Sua dimensão mortífera deriva da promessa de completude que oferta, na medida em que, seduzido pelo perigo, o sujeito lança-se, voraz e adictivamente, sem afeto, a experiências empobrecidas, narcisistas e, amiúde, solitárias. É no seio da pornografia que conseguimos, tal como Odisseus, na narrativa mítica de Homero, a suportar o canto sedutor e nefasto das sereias, doravante transformadas, no território do sexo, em imagens sonoras, cujos ruídos e movimentos fazem vibrar os mais recônditos desejos. Nossa pesquisa, numa interlocução entre os estudos psicanalíticos de base freudiana e as contribuições teóricas de Michel Foucault (2014), pretende examinar as textualidades semióticas que recobrem o site Boa foda, de modo a interpretar os jogos linguageiros, a partir dos quais o sexo torna-se letárgico e, com efeito, atraente, em decorrência da pulsionalidade tanática que circula nesse espaço.