Na contemporaneidade a ordem do discurso é cuidar do corpo. Almeja-se cada vez mais um corpo bonito, saudável e jovem. Presenciamos o fortalecimento do processo de supervalorização da estética perfeita. O discurso midiático tem o poder de criar representações e práticas sociais acerca da beleza produzindo uma identificação associada a imagens estereotipadas. Entendemos esse discurso sobre o corpo como o uso efetivo da linguagem inserida no âmbito social determinado e reconstruído constantemente. A mídia legitima padrões e paradigmas arraigados pela e na sociedade, constituindo-se como um discurso dominante na construção de estilos de ser, de identificações e de representações identitárias, colocando à margem os sujeitos sociais que porventura não consigam se inserir no padrão corporal imposto. A cultura do corpo é protagonista na cena social produzindo e agenciando subjetividades. Distintas práticas corporais, cada vez mais radicais, estão sendo utilizadas para escapar do grande vilão chamado “gordura”. Nesse contexto, lançamos um olhar sobre o corpo gordo, refletindo sobre o discurso que se apresenta em evidência, trazendo à presença o que é interditado. Objetivamos verificar o discurso de resistência do corpo gordo feminino veiculado na mídia. Para isso, analisamos o uso da imagem do corpo gordo feminino em cinco capas de revistas de circulação nacional. Teoricamente, este trabalho está ancorado no âmbito da Análise do Discurso (AD) francesa, particularmente, nas ideias postuladas por Pêcheux (2007) e sua aproximação com os estudos de Michel Foucault (2008; 2012) sobre discurso, poder e saber. No que tange à temática do corpo, buscamos suporte teórico nos estudos de Fischler (2005), Courtine (2005, 2013), Ortega (2008), Vigarello (2012), Pereira (2013; 2015), dentre outros.