Não é incomum se deparar com atitudes preconceituosas em relação aos dialetos utilizados por estudantes, em idade escolar, pertencentes às camadas mais pobres da sociedade. Atitudes estas reafirmadas, muitas vezes, pela própria escola em suas práticas docentes. Sendo esta a instituição primeira em que se deveriam desnaturalizar preconceitos diversos, incluindo, o que se entende, pelas teorias sociolinguísticas, como preconceito linguístico, torna-se problemático o tratamento que se as formas utilizadas por esses falantes recebem na escola. O que pode gerar problemas na autoestima desses discentes enquanto falantes e, até mesmo, repetência e/ ou evasão escolar. No viés contrário a essas consequências negativas, a proposta de uma Pedagogia da Variação tem muito a contribuir. Ora, é preciso que professores, em especial aqueles que trabalham mais diretamente com o ensino de língua materna, se conscientizem de que a língua não é homogênea nem estática e de que o valor das formas linguísticas utilizadas pelos falantes está historicamente situado e que estas possuem significado social. A língua constitui identidade sociocultural de qualquer grupo/comunidade de fala. Diante disso, é preciso que o professor em processo de formação continuada ou o graduando de Letras/ Pedagogia tenham a noção de que existem, não apenas uma norma a ser utilizada/ permitida como “correta”, e sim, diferentes norma(s) linguística(s) possíveis de serem utilizadas e que, do ponto de vista da própria gramática da língua são igualmente válidas. É preciso que o professor e/ ou graduando estejam conscientes das possibilidades de uma educação emancipatória, percebendo, no combate ao preconceito linguístico, uma das possibilidades de transformação e valorização dos sujeitos envolvidos. Nessa perspectiva, o presente artigo tem como objetivo principal apresentar importantes pressupostos defendidos pelo que alguns autores têm defendido como uma pedagogia da variação e, assim, fazer reconhecer a importância desses pressupostos para o combate ao preconceito linguístico na escola, com intuito de promover uma educação em que os alunos saibam se adequar aos mais diferentes contextos de usos da língua: dos mais informais aos mais formais. Entre outros autores, se tomam como base, para discutir questões relacionadas à sociolinguística e ensino, Bagno, Faraco, Görski e Tavares. E, para abordar a importância de uma educação emancipatória, especialmente, Freire. Ao longo do artigo são discutidos o papel da escola numa proposta de educação transformadora, a importância do estudo da variação linguística na formação de professores de língua materna e reflexões/ ações possíveis de combate ao preconceito linguístico na escola. Acredita-se que este trabalho importe, especialmente, na medida em que discute a importância de uma formação inicial ou continuada que pense a escola como possibilidade de transformação dos sujeitos e, consequentemente, de redução das desigualdades a que os falantes menos favorecidos estão, geralmente, sujeitos.