A presente proposta de trabalho tem como foco discutir as ressonâncias do pensamento do escritor russo Leon Tolstói (1828-1910) entre os intelectuais que colaboraram com o jornalismo literário brasileiro, com destaque para o periódico carioca A Careta. O conde Tolstói, a partir dos 50 anos de idade, reformulou sua efígie de escritor e passou a defender o ideário de que um estilo de vida pacifista, vegetariano, solidário e prosaico, inspirado no cotidiano dos campesinos e trabalhadores, era o melhor caminho para uma existência bem sucedida. O escritor russo, em vários de seus libelos, passou a atacar o autoritarismo da autocracia russa, as contradições sociais que acompanharam a modernidade e clamar pela redistribuição de terras em seu país . A imprensa ocidental, principalmente a francesa, passou a divulgar com ênfase os textos engajados do escritor com essas causas. Em pleno auge da chamada Belle Époque tropical, os escritores brasileiros tiveram de refletir sobre um contexto parecido, principalmente aqueles que apresentaram consciência de que a modernidade estava sendo vivenciada, pelo maior contingente da população, enquanto um drama nos quais diversos costumes populares foram postos na mira das políticas eugenistas dos governos republicanos. Nestes termos, propomos uma análise das ressonâncias do tolstoísmo - que preconiza a valorização e comunhão mística com sujeitos sociais marginalizados - na prosa jornalística e ficcional nacional tais quais são encontradas em textos de José Veríssimo (1857-1916), Fábio Luz (1864-1931), Curvelo de Mendonça (1870-1914) e Lima Barreto (1881-1922). Constatamos que esses autores brasileiros, com sua verve crítica social em prol dos anseios populares, considerados menor pelos parnasianos, fazem parte de um grupo que assumiu o ressoar da obra de Leon em seus textos. Sendo assim, pretendemos analisar os ecos que as ideias de Tolstói, principalmente no período em que esse escritor russo comprometeu-se completamente com a confecção de textos militantes, estabeleceram em crônicas, entrevistas ou ensaios, presentes na documentação aqui escolhida. Vale salientar que, embora se trate aqui de um estudo de escritores/leitores com ampla formação humanística, priorizaremos interpretar as figurações de estamentos sociais subalternos nos textos elencados e as polêmicas sobre a função da literatura, de acordo com esses literatos, em um país que contava, até então, com índices de 80% de analfabetismo. Desse modo, buscamos contribuir para os debates sobre como a cultura impressa estrangeira estabeleceu tensões, apropriações, adesões e ressignificações, entre a intelligentsia nacional e os diferentes usos que essas leituras de Tolstói possuíram para a elaboração de diagnósticos sobre modernidade, cosmopolitismo e cultura popular brasileira entre essa geração de letrados.