Nos cantos e contos da cultura popular do Nordeste brasileiro são muito comuns personagens míticos e elementos metafóricos que mexem com o imaginário de sucessivas gerações. Os poetas repentistas, cordelistas e contadores de causos conduzem na sua atividade marcadamente oral esse conjunto de elementos que tanto ornamentam as suas performances quanto contribuem para a manutenção do imaginário do povo. Para Averbuck (1985, p. 142) “a palavra do poeta assume os contornos das formas que ele escolheu para traduzir o mundo por ele percebido”. Observando e vivenciando as diferenças do Brasil oficial e do Brasil real (SUASSUNA, 2000, 34-5), suas lendas, seus causos, suas poéticas, seus narradores misturam real e imaginário, termos tradicionais e neologismos, dando densidade ao universo literário popular. O ‘oncismo’ configura-se com um desses neologismos cuja abrangência literária transpõe os limites regionais e expande-se Brasil afora. Segundo Perrone-Moyses (1990, p. 15), “a literatura nunca está afastada do real. Trabalhar o imaginário pela linguagem não é ser capturado por este, mas capturar, através do imaginário, verdades do real que não se dão a ver fora de uma ordem simbólica”. A partir deste olhar propõe-se neste trabalho: a) cartografar os vestígios da expressão neologística oncismo em obras da nossa literatura, mais precisamente as de tradição oral; b) analisar as diferentes perspectivas de abordagem da literatura acerca do ‘oncismo’ à luz de um olhar fenomenológico de busca de vestígios e/ou marcas de um momento sócio-histórico e culturalmente marcante para a arte da linguagem.