As sociedades contemporâneas ainda comportam relações de gênero patriarcalmente organizadas, as quais estão enraizadas em todas as searas sociais, inclusive nos meios de comunicação de massa. A violência sexual constitui uma de suas consequências mais desastrosas e alarmantes, pois está inserida em uma dinâmica complexa de aceitabilidade social. Os movimentos feministas e de mulheres cunharam o termo “cultura do estupro” para se referirem a tal lógica. Argumenta-se que a representação estereotipada das relações de gênero na mídia brasileira contribui diretamente para a naturalização da violência sexual contra mulheres, posicionando-as como acessíveis aos homens. Com base na Análise Crítica do Discurso (ACD), da revisão bibliográfica de estudos de gênero e das teorias críticas dos direitos humanos sobre direito à comunicação, este trabalho visa demonstrar que a mídia brasileira – especificamente os anúncios publicitários – ao refletir discursos da cultura do estupro está ao mesmo tempo reforçando-a e, nesse sentido, contribuindo para a ideologia patriarcal binária. Uma vez que o discurso da cultura do estupro é socialmente hegemônico e estruturalmente enraizado, o Sistema de Justiça Criminal demonstra-se ineficaz para lidar com a problemática, sendo a democratização da mídia e a pluralidade de discursos de gênero um instrumento de prevenção e superação da violência contra mulheres.