Uma questão de gênero marca fortemente as relações e identidades homoafetivas nas sociedades ocidentais, pelo menos desde a Antiguidade grega. O papel ativo versus o papel passivo nessas relações, construídos, social, cultural e historicamente, definem ainda quem domina e quem é subjugado, respectivamente. É uma questão de gênero que, em muitos casos, se sobrepõe à sexualidade, ou seja, o ativo é sempre mais homem do que o passivo, reverberando o patriarcalismo e o machismo ainda dominantes nas relações heteroafetivas, na quais a mulher é sempre considerada inferior. Recorrendo à literatura como um canal privilegiado – seja para reproduzir com o máximo de fidelidade a realidade, seja para subverter esta mesma realidade, estimulando a reflexão – propomos, neste artigo, analisar como personagens infantis homoafetivas do sexo masculino são retratadas nos referidos enredos. O objetivo é, por meio de uma análise textual, verificar como a questão de gênero referida acima (o ativo x o passivo) permeia a questão da sexualidade que envolve os meninos ainda em idade infantil, nos seguintes textos da literatura brasileira: O Ateneu (1888), de Raul Pompéia; Capitães da areia (1937), de Jorge Amado; Dona Sinhá e o filho padre (1964), de Gilberto Freyre; e Em nome do desejo (1983), de João Silvério Trevisan.