Introdução: Devido ao fato de o analfabetismo ainda ser um problema universal, limitando a utilização de testes cognitivos mais complexos, uma vantagem do teste do desenho do relógio (TDR) é a influência supostamente menor do grau de escolaridade na sua realização. Poucos estudos têm abordado especificamente as características psicométricas do TDR em populações idosas de baixa nível educacional. Os objetivos deste estudo são avaliar a existência de déficit cognitivo em pacientes idosos internados nas enfermarias do Hospital Universitário Lauro Wanderley (HULW) através do TDR e verificar a relação entre desempenho neste e grau de escolaridade. Metodologia: Estudo observacional e transversal com avaliação cognitiva breve de idosos internados no HULW através da aplicação do TDR de Shulman. Resultados: Avaliaram-se 67 pacientes internados nas enfermarias do HULW com idade entre 60 e 87 anos, média de 70 ±7, 66% homens, 62% da classe econômica C, 60% analfabetos. Verificou-se que 81% tinham déficit cognitivo (escore menor que 3) e 35,8% obtiveram escore zero. Houve relação significativa entre presença de déficit cognitivo pelo TDR e escolaridade (p=0,001). Conclusão: A aplicação do TDR mostrou elevado índice de déficit, porém parece ter havido um viés de escolaridade. Como instrumento inicial de avaliação cognitiva breve no contexto hospitalar de uma instituição pública, a aplicação do TDR indicou a necessidade de aprofundamento na avaliação neuropsicológica desses indivíduos para excluir provável viés educacional. Assim, o TDR parece ser inadequado como método de triagem isolado na nossa população.