Este trabalho relata a experiência do projeto “Cine-Chica”, que consistiu na prática do cineclubismo e da produção audiovisual como ferramentas de reflexão acerca de saúde, política, meio ambiente e Direitos Humanos, com foco na autonomia de narrativas dos sujeitos envolvidos. A ação foi oriunda das atividades de iniciação à docência em uma escola municipal de ensino fundamental, anos finais, em João Pessoa (Paraíba). Ao longo de dez meses, foram exibidas sessões de filmes brasileiros de curta-metragem em uma turma de 9º ano da educação regular, seguidas de discussão coletiva e resenha crítica no tocante às temáticas retratadas nos filmes e aos aspectos técnico-artísticos explorados na sétima arte. Para além da discussão estética, o consumo coletivo de obras audiovisuais permite a circulação de saberes, perspectivas de mundo e reflexão sobre as realidades retratadas na tela e vividas fora dela. Sob essa perspectiva, foram escolhidas obras nacionais protagonizadas preferencialmente por crianças e/ou adolescentes, em contextos de potencial identificação com o público participante, de maneira que foi possível discutir criticamente sobre os seguintes temas: lixo e degradação ambiental; soberania nutricional; política e desigualdades sociais; negritude e culturas de terreiro; conservação ambiental e povos originários; sexismo e questões de gênero; anti-capacitismo; organização coletiva e movimentos sociais; direitos de crianças e adolescentes; e representação positiva de afetividades LGBTQIAPN+. Ao fim do ciclo de sessões do cineclube (ao longo das quais foram apresentados conceitos de produção audiovisual), foi realizada uma oficina de cinema em pequenos formatos, onde a turma participante pôde se apropriar dos princípios apresentados para produzir um experimento de curta-metragem captado com aparelhos smartphones. Etapas como direção, captação de imagens, atuação e roteiro semiestruturado foram definidas e executadas pelas(os) estudantes da turma em questão, originando o experimento de ficção “Merenda”, que retrata e critica a escassez nutricional nas escolas públicas.