Este artigo examina a crise de identidade na história em quadrinho Retalhos (2003), do escritor e quadrinista norte-americano Craig Thompson. Consistindo numa das facetas do mal-estar cultural, este afeto do ego será estudado em relação ao conceito psicanalítico de posição, definido como o estatuto do indivíduo no âmbito da relação objetal por ele entretida com a sociedade, com os outros e consigo próprio. Pretende-se, para tanto, uma interação entre os postulados teóricos da Psicanálise, dos Estudos Culturais em Literatura e da Semiótica. Em caráter mais específico, busca-se: caracterizar a natureza do “mal-estar” que acomete o narrador-personagem; demonstrar psicanaliticamente o desenvolvimento do seu processo de tomada de posição, no que concerne à crise identitária por ele experimentada; apontar o papel dos mecanismos de defesa do ego como possíveis instrumentos para a acomodação, caracterizando-a como elemento de repressão ou de retardamento ao doloroso e inevitável processo de (re) constituição da identidade pelo qual a personagem deve passar; apontar o papel da memória como instrumento de aquisição da integridade do ego; observar como os quadrinhos representam/mimetizam, na interface palavra x imagem, o mal-estar cultural que se encontra na raiz da crise de identidade vivida pelo protagonista da narrativa; destacar as possíveis interações que a palavra e a imagem permitem enquanto intersemioses identificadas a processos de significação correlatos, embora distintos, como a narrativa literária e a linguagem visual dos quadrinhos.