Este trabalho propõe-se a analisar o erotismo presente nos poemas “Mantém a tua mão” e “Deixe a mão pousada na duna”, da angolana Ana Paula Tavares, ambos inseridos no livro Manual para amantes desesperados, de 2007. Os poemas trazem, a partir da imagem das dunas do Kalahari, um retrato que aponta para o erotismo feminino refigurando o corpo da mulher nas imagens áridas dos desertos. Nas obras, as dunas ora representam os aspectos físicos da mulher ora os possíveis caminhos para o prazer desta, como um guia, um manual, uma leitura que retoma o erotismo feminino como terreno arenoso, um labirinto movente, permeado pela falta que perfaz o desejo, o devir do gozo feminino. Observa-se na poesia de Paula Tavares uma escrita transgressora que vai de encontro com os preceitos e preconceitos patriarcais pelo fato desta trazer a exposição do corpo da mulher através da literatura, uma vez que reconhece as podas morais e sociais que toda mulher é instigada e educada a aceitar. Essas amarras vetam à mulher o direito de se tornar sujeito de si e dona de seu corpo, pois a ela foi designado os afazeres domésticos e a aprendizagem de viver para servir. Pretende-se aqui uma discussão de gênero em sintonia com o suporte teórico de O riso da Medusa, de Hélène Cixous (1976), de O corpo erotizado, de Elódia Xavier (2007), de O erotismo (1987), de Georges Bataille, e de Pode o subalterno falar? (2010), de G. Spivak.