O presente trabalho pretende analisar, sob o prisma da psicanálise (pós)freudiana, a representação da figura lésbica, na obra O poço da solidão, de Radclyffe Hall. O enredo centra-se na trajetória de Stephen Gordon, a jovem herdeira de uma tradicional família inglesa do interior. Em seus primeiros anos de vida, convive com as rígidas regras de conduta, que marcaram os últimos anos do reinado da rainha Vitória, forjando-lhe as primeiras culpas. Batizada com um nome masculino, por impulso inconsequente de um pai desesperado por uma descendência masculina, Stephen assume, desde cedo, seu caráter “invertido”, torna-se um ser do “terceiro sexo, “que nasceu com alma e mente masculinas, aprisionadas em um corpo feminino”. Expulsa de casa por sua mãe, discriminada por seus vizinhos e, sentindo-se extremamente infeliz por se considerar “anormal”, a personagem refugia-se, primeiro, em Londres, onde encontra a fama com a publicação de seu primeiro livro, e depois em Paris. Com o início da Primeira Guerra Mundial, Stephen volta para a Inglaterra, onde sua coragem, frieza e força física são ansiosamente solicitadas pelo Ministério da Guerra. Partindo rumo a uma vida em que encontra outras mulheres iguais a ela, descobrindo que pode viver uma vida “normal”, desconstruindo vários parâmetros sociais estabelecidos pela sociedade da época. Para a análise, utilizaremos os preceitos da teoria psicanalítica de Sigmund Freud, dentre outros teóricos que se debruçam sobre o estudo das identidades gays, numa perspectiva em que cultura e subjetividades se implicam e se constroem.