As mulheres na literatura brasileira sempre foram representadas na perspectiva masculina, já que os autores canônicos eram todos homens. Mas na segunda metade do século XIX, graças aos movimentos feministas, começam a ocorrer modificações nos paradigmas econômico, político e social das mulheres brasileiras. Considerando tais transformações, neste trabalho buscamos fazer uma análise dos poemas Ser Mulher e Volúpia do livro Poesias completas (1991), ambos da poetisa pré-modernista Gilka Machado, a fim de compreender a representação feminina em sua poética. O anseio de refletir sobre a mulher nos poemas de Gilka Machado surgiu pela autenticidade e sensibilidade da poetisa ao trabalhar a voz lírica feminina, diferenciando a mulher da noção tradicional de “dona do lar” e apresentando uma mulher que subvertia o moralismo burguês. Desse modo, a poesia gilkiana pode ser considerada como revolucionária, pois é marcada não apenas pela forte presença da sensualidade, mas também pela crítica moral – através das imagens de mulheres e das questões sociais que as rondeiam –, que se inserem em sua literatura ao abordar o fervor desse período de transição vivenciado pela sociedade carioca, a fim de discutir e repensar as questões que envolvessem a condição feminina no início do século XX.