O presente trabalho analisa o romance Dois Irmãos, de Milton Hatoum, romancista e crítico literário, tendo como categoria analítica o silêncio, que se interpõe entre o dito o não-dito numa relação de poder. Trata-se de analisar, de modo especifico, a personagem feminina Zana, a mãe dos dois irmãos, mulher forte, cujas vontades realizadas provocam uma espécie de silêncio impositivo em relação ao marido, Halim. Em contraposição ao modelo patriarcal instituído historicamente, o marido, Halim, é dominado e posto no silêncio por sua esposa, Zana. Nessa perspectiva, o fulcro central desse trabalho é mostrar como o romance em estudo traz a representação de uma mulher que não se deixa subjugar, tampouco se deixa ser objeto apoderado e anulado. Nosso estudo visa verificar que o silêncio inscrito, na obra aludida, enquanto instrumento de linguagem provocativa dos paradigmas da fala usual, inverte papéis sociais tradicionalmente criados em torno das relações de gêneros. É que no romance, a personagem feminina não silencia, antes faz silenciar o marido, obrigando-o ao silenciamento, como se o apagamento de sua voz representasse a anulação de sua existência, já que ele na narrativa aparece destituído de poder, o que parece fruto de imposições e determinações, bem como demonstra como o exercício da fala está ligado ao exercício de apoderamento. A análise se fundamenta no pensamento de Roland Barthes acerca do silêncio, em seu livro O neutro, e no ensaio crítico de Lourival Holanda, presente em seu livro Sob o signo do silêncio.