Este artigo foi construído a partir de investigação antropológica em andamento conduzido entre jovens negros do sexo masculino de escola pública na cidade de São Félix no Recôncavo Baiano, Bahia. Busca descrever os processos cotidianos que tem conduzidos esses estudantes a abandonarem as salas de aula do Ensino Médio. A investigação vem sendo desenvolvida com estudantes jovens de 14 a 24 anos, e envolve entrevistas semi-estruturadas, questionários e grupos focais sobre gênero, educação, cultura popular, sexualidade, violência e identidade negra. Importa privilegiar aqui análises que deem conta da complexidade das interações entre relações de gênero e raça para interrogar a produção dessas desigualdades educacionais. Buscar compreender como as representações são construídas, assumidas e apropriadas no contexto das formações discursivas e das relações de poder subliminares, sob a forma do poder simbólico. Essa análise de dados empíricos está sendo construída também a partir de procedimentos metodológicos quantitativos, e tenta estabelecer uma visão mais aprofundada a respeito dos fatores que interferem no percurso dos estudantes homens negros e suas percepções em relação às próprias trajetórias familiares e escolares. Devemos reafirmar por que o gênero deve ser colocado no centro do debate educacional hoje. Seja na escola, na formulação de políticas públicas, seja na pesquisa acadêmica, dois temas atualmente nos parecem cruciais, e o são porque têm um reflexo social significativo. Um deles é a defasagem dos rapazes negros em relação às meninas negras e o outro, fortemente articulado ao primeiro, é a questão da violência na escola, um tema que se vincula aos debates sobre a juventude e a violência social como um todo. Estamos falando, na verdade, de determinadas formas de masculinidade que fazem parte da trajetória de um grupo significativo dos nossos rapazes, daqueles que estão mais abaixo no conjunto das hierarquias de classe e de raça, um caminho que desemboca em atitudes anti-escola, em fracasso escolar, transgressão e, no limite, em violência social. Portanto, há relações de gênero que, se não explicam esses fenômenos como um todo, não podem ser dispensadas para entendê-los. Por isso está posta diante de nós a tarefa de trazer a discussão de gênero – e fundamentalmente uma discussão sobre as masculinidades – para o centro do debate educacional, tornando-a visível.