As ciências, ou seja, os saberes que se originaram na Europa com a ascensão da cultura moderna, e em oposição a tradição medieval, difundiram-se para outras partes do mundo, inclusive para a Amazônia, alcançando localidades como o Pará, à medida que foram encontrando condições para isso. Qual o papel das instituições de ensino nesse processo? Esta é uma questão que norteia de modo geral o propósito desse artigo: que é compreender o processo inicial de inserção das ciências no sistema escolar da Amazônia, especificamente no Pará, por meio das seguintes indagações: Que ciências foram inseridas? Que instituições de ensino as adotaram e em que momento? E, que condições encontraram para adentrar na cultura local? Para responde-las analisamos os primeiros currículos das escolas locais, os relatórios governamentais, as leis, enfim os discursos diretamente indicadores das características e dos modos como as ciências foram adotadas no sistema escolar local. Subsidiaram as análises o diálogo com historiografia da ciência e da educação, principalmente da América Latina; os estudos culturais, na perspectiva de Stuart Hall e outros; e, algumas inferências fundadas em Michel Foucault, principalmente no que diz respeito ao olhar para as condições de possibilidade. Constatamos que, embora a modernidade tenha começado a se inserir nas escolas da Amazônia, com as Reformas Pombalinas, em meados do século XVIII, as ciências só foram incluídas nas escolas, no século seguinte, com a entrada de Elementos de física e de química, e princípios gerais de Botânica, no Liceu Paraense em 1851. Retiradas dois anos depois, retornaram em 1868. Observamos, ainda, que estes acontecimentos se tornaram possíveis pelas condições criadas na cultura local, representada pela expansão da modernidade em conformidade com os discursos que a promoviam, elaborados pelos governantes e outros agentes que tinham o poder de influenciar a inserção das ciências nos currículos das escolas.