O terreiro de candomblé é um espaço sagrado de matriz africana marcado pela presença de sujeitos que se reúnem em comunidade e se identificam enquanto uma família: a família de axé. Fazendo parte do cotidiano familiar, cada membro se integra ao culto dos orixás que habitam esse ambiente. Para isso, a família de axé é concebida como um espaço de sociabilidade, repleto de valores civilizatórios, onde os ritos e as condutas de comportamento que fundamentam a liturgia do candomblé são mantidos vivos e compartilhados com as novas gerações, por meio da prática chamada humbê: a educação de axé. É nesse âmbito que me insiro, na condição de pesquisador das espacialidades do candomblé e pessoa de terreiro. Recentemente, pude desenvolver um estudo de campo etnogeográfico em um terreiro de candomblé de nação Ketu, localizado na cidade de Cajazeiras-PB. Nele, a oralidade e o aprender-fazendo foram as principais estratégias da comunidade para realizar a educação de axé. Para tanto, uma hierarquia familiar que está principalmente relacionada à senioridade deve ser respeitada: os mais velhos ensinam aos mais novos. Essa hierarquia e os códigos de conduta que ela propõe conduzem os ritos e as tradições mantidas no terreiro, com implicações espaciais sobre os corpos dos membros da família de axé, estes, territorializados de acordo com a relação entre o saber e o poder no culto dos orixás.