Este trabalho, de natureza qualitativa, tem por objetivo discutir possíveis efeitos de sentido a partir de usos de linguagem não-binária em cinco publicações, realizadas em 2022, da página de humor intitulada "Frases pra você", do Instagram. Serviram-me de aporte teórico autorxs como Borba (2020), Cavalcante e Brito (2022), Santos Filho (2021) e Vergueiro (2020; 2021), responsáveis por mobilizarem conceitos que vão desde aspectos textuais e discursivos até às questões de gênero e não-binaridade. Em termos de resultados, foi possível perceber que 1) a linguagem não-binária, utilizada na página, é apenas um dos modos de marcação de gênero, haja vista que os posts analisados utilizam sempre três imagens que representam, respectivamente, personagens masculinos, femininas e não-bináries; 2) as publicações associam a linguagem não-binária à imagens femininas, pois sempre que há ocorrência deste mecanismo linguístico figuras femininas são utilizadas no post — bonecas com seios grandes, além de roupas, acessórios e trejeitos socialmente lidos como femininos —, como forma de representação da não-binaridade. Diante disso, foi possível concluir que as construções da página investigada acabam por conduzir a pessoa leitora a estabelecer relações entre linguagem não-binária e performances femininas de gênero, relação esta que não tem embasamento além do pressuposto de que pessoas não-binárias são femininas. Além disso, é perceptível que a linguagem não-binária não substitui o masculino e o feminino da língua como se visasse a superá-los, mas opera como uma possibilidade de (não) marcação de gênero capaz de agenciar política e socialmente determinadas pessoas que se opõem ao masculino genérico e/ou, não se sentem por ele representades.