Entre 2012 e 2017 o Semiárido brasileiro vivenciou uma estiagem prolongada, sendo considerada uma das mais longas da história das secas naquela porção do território nacional. As informações disponíveis permitem constatar os elementos de continuidade e de mudanças nas ocorrências das secas na região. De modo geral, a vulnerabilidade da produção agrícola na região é estrutural e se intensifica durante as longas estiagens com prejuízos nas atividades agrícolas e pecuárias, com a desestruturação de sistemas produtivos em pequenas propriedades rurais, agravando a situação de pobreza na região. Da mesma forma, permanecem os fatores da fragilidade ambiental, com a contínua perda de biodiversidade decorrente do manejo inadequado do solo, do desmatamento da vegetação de caatinga, além da exploração excessiva dos mananciais hídricos, com desaparecimento de correntes fluviais, aprofundamento do lençol freático e a poluição de nascentes e olhos d'água (Tomasella et al, 2018). Apesar da severidade desses anos seguidos de estiagem na região, diversos estudos constatam mudanças nos impactos sociais da secas neste último período (Araújo, 2014; Carvalho, 2014; Perez-Marin et al; Mattos, 2017). Pode-se então questionar se ocorreu um aumento da capacidade de resistência da população sertaneja no Semiárido? Considerando essa questão realizou-se uma pesquisa documental e bibliográfica de caráter exploratório e explicativo com o objetivo de identificar e analisar os fatores que fortalecem as capacidades de resistência da população sertaneja às estiagens prolongadas, tendo por referência o período entre 2012 e 2017. Tomou-se como ponto de partida a análise dos resultados da Pesquisa de Informações Básicas Municipais para o ano de 2017, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2018) que incluiu um conjunto de questões sobre a ocorrência de seca, seus impactos e ações realizadas no município para evitar ou minimizar os danos causados pela seca. Com base nessas constatações iniciais, avançou-se nos estudos documentais e bibliográficos para avançar na compreensão da trajetória histórica da região com a identificação de fatores sociais, políticos, econômicos e ambientais que contribuem para fortalecer ou para fragilizar as capacidades de resistência sertaneja. Verifica-se, por exemplo, os limites das políticas de combate às secas e aos seus efeitos que reproduziram, por mais de um século, as bases estruturais do velho complexo sertanejo, mas não alteraram as condições de vida da maioria da população local (Silva, 2008). Da mesma forma, durante as décadas de 1960 a 1980, o processo de modernização econômica adquiriu uma feição conservadora no Semiárido, viabilizando novas formas de acumulação de capital, mas preservando as antigas estruturas socioeconômicas e políticas regionais. Os estudos mostram que ocorreram mudanças nos padrões das políticas públicas para o Semiárido nas últimas décadas quando ocorreram alguns avanços qualitativos em direção ao fortalecimento das capacidades de resistência dos povos do Semiárido com a implantação de milhares de iniciativas descentralizadas de captação e armazenamento de água de chuva, de melhorias tecnológicas com o fortalecimento de sistemas produtivos ecologicamente apropriados para agricultura familiar e camponesa, combinadas com a expansão de uma rede de proteção social. É exatamente esse somatório de estratégias de convivência com Semiárido articulado à expansão das políticas de seguridade social que explica o fortalecimento das capacidades de resistência da população local, contribuindo para reduzir as duras expressões da calamidade social nesse último período de estiagem prolongada. Mesmo assim, permanecem grandes desafios para avançar em direção à convivência com o Semiárido, tendo em consideração que não ocorreram mudanças estruturais significativas capazes de reverter algumas das heranças regionais de reprodução da pobreza e das desigualdades sociais.