No município de Crateús, na década de 90, iniciou-se o processo de mobilização sociopolítico, resultante na constituição dos grupos Kalabaça, Kariri, Potiguara, Tabajara, Tupinambá e Guarani. Promovida pela ação da Pastoral Raízes Indígenas da Diocese de Crateús, tal articulação foi empreendida por moradores da zona urbana da cidade, formando nove aldeias, onde a Escola Municipal Airam Veras recebe atualmente esse público como discente no ensino básico. O referido artigo objetiva analisar a etnicidade dos que compõem estas coletividades, considerando implicações de contextos urbano/rural, já que os mesmos localizam-se na periferia, sendo dependentes direta ou indiretamente de atividades camponesas, e qual o papel da escola regular nesta construção. Para atingir a finalidade desse estudo relacionamos etnicidade, etnologia indígena, antropologia urbana e suas relações com as atividades campestres, com o intuito de usar essas informações para a produção de projetos políticos pedagógicos que contemple melhor os grupos indígenas que é maioria na comunidade escolar citada. Por meio de relatos etnográfico, que integra texto e imagem, evidenciamos o processo de urbanização da cidade, mostrando como ela se tornou um polo universitário distribuidor de bens e serviços onde se encontra em plena revolução técnico-cientifico-informacional no Centro-oeste do Ceará, privilegiando a visão dos indígenas discentes e examinando como vivem, sua percepção da cidade e das experiencias exercidas nas devidas atividades e do ser indígena nestes espaços, principalmente educacional. Onde o conceito de identidade encaixa-se na multilocalização proposto por Marcus, revelou-se, então, apropriado para essa análise, pois afirma que a identidade de alguém no local onde mora, entre vizinhos, amigos, parentes ou pessoas estranhas é apenas um dos contextos sociais, e talvez, nem seja o mais importante na formação de uma identidade” (MARCUS, 1991, p.204). E sim, compara-la à noção contrastiva, tomando-a como a essência da identidade étnica, a saber que, quando uma pessoa ou grupo se assevera como tais, o faz como meio de diferenciação em relação a alguma outra pessoa ou grupo com que se defronta; é uma identidade que surge por oposição, implicando a afirmação do Nós diante dos Outros, jamais se afirmando isoladamente. O certo é que um membro de grupo indígena não invoca sua pertinência tribal a não ser quando posto em confronto com membros de outra etnia. O caráter em contraste desta identificação constitui assim um atributo essencial da identidade étnica (CARDOSO DE OLIVEIRA, 1976, 36 e 45). Logo as discussões foram adotadas devido à crença de que no interior dos grupos sociais que vivenciam fatos e situações específicas são constituídas opiniões informais abrangentes, que influenciam normativamente na consciência e no comportamento dos indivíduos. Portanto as técnicas de coleta de dados, possuem a função de complementar a observação, que focaliza mais fortemente o comportamento e as relações (MINAYO, 1994, p.129). E assim, através da abordagem das trajetórias dos núcleos familiares que compõem a coletividade estudada é apresentado como se constituiu tais grupos, influência dos agentes externos, lógica da adoção dos etnônimos e os múltiplos contextos de edificação da identidade étnica. A política indígena e suas relações são contempladas, expondo as disputas, o protagonismo dos sujeitos envolvidos e o processo de institucionalização da etnicidade e seus impactos na educação não indígena. Por fim, são apreciados impasses que se apresentaram no reconhecimento da indianidade e o acesso aos seus direitos, devido à localização no contexto urbano e o papel da escola regular não indígena oficialmente inserida na comunidade, revelando como se constituiu a categoria Terra de origem e os processos de territorialização empreendidos.