A coloração das flores é de suma importância para atrair polinizadores e com isso garantir a reprodução das angiospermas. Existem diferentes fatores que determinam a coloração de um objeto, dentre eles o sistema visual do observador, a refletância do objeto, o plano de fundo no qual o objeto se encontra e a iluminação. A mudança de qualquer um desses fatores pode tornar um objeto mais ou menos perceptível. Abelhas conseguem enxergar ultravioleta (UV) e possuem baixa sensibilidade ao vermelho, já seres humanos não enxergam UV e apresentam alta sensibilidade ao vermelho. Utilizando modelagem visual podemos determinar como diferentes organismos percebem cada uma das flores. O objetivo do trabalho foi modelar como diferentes flores de uma área de caatinga são percebidas por abelhas e como a distribuição de cores difere da percepção humana. O trabalho foi realizado na Floresta Nacional de Açu (FLONA Açu) onde foram delimitados 5 quadrantes de 50mx20m. As coletas foram realizadas mensalmente durante os meses de chuva, de fevereiro até junho de 2018. Cada quadrante foi visitado 4 vezes ao dia, uma vez por mês. Todas as flores com inflorescência maior de 1mm de diâmetro e que se encontravam a até 1,5m de altura foram coletadas. Essas flores tiveram suas refletâncias medidas por um espectrofotômetro (USB4000 UV-VIS Ocean optics), conectado a uma fibra bifurcada (QR-450-7-XSR) e uma lâmpada (BH-2000-BAL Ocean optics) e o programa Spectrasuit (Ocean Optics). Utilizamos o pacote Pavo do R para realizar a modelagem visual. Inserimos as refletâncias no modelo do hexágono de cor (Chittka, 1992) para obter as categorias de coloração de abelhas. Para seres humanos foram utilizadas as mesmas categorias que Arnold, Comber & Chittka (2009). Adicionalmente, utilizamos o modelo de Osorio & Vorobyev (1996) para calcular a distância cromática entre cada flor e sua folha. Foram coletadas 34 espécies de 20 famílias diferentes sendo Malvaceae (4) e Euphorbiaceae (4) as com mais representantes. Algumas das espécies tinham mais de um morfotipo de coloração então foram contabilizadas duas vezes totalizando 36 morfotipos. Para abelhas, a coloração mais abundante foi azul-verde (23), seguido de UV (5), verde (4), azul (2) e UV-azul (2); nenhuma correspondeu a categoria UV-Verde. Para humanos encontramos, majoritariamente, flores brancas (17), seguido por amarelo (8), roxo (5), rosa (3), vermelho (2), e azul (1); não foram encontradas nenhuma flor verde. A média dos contrastes cromáticas (em unidades de JND) de cada categoria na visão de abelhas foi maior que três, o que indica que todas as flores foram altamente perceptíveis. A maior média de JND para abelhas correspondeu à categoria azul-verde, que é a categoria com maior número de espécies. Para humanos, todas as categorias obtiveram o contraste cromático maior que três JNDs, com exceção das flores brancas cuja a média ficou abaixo deste limiar. A utilização de modelagem visual é muito importante para quebrar uma visão antropocêntrica de sinais ecológicos, é preciso levar em consideração um sistema visual ecologicamente coerente para podermos melhor compreender a evolução de sinais. O trabalho corrobora a teoria de direcionamento sensorial (Endler & McLellan 1988) que alega que sinais vão evoluir para serem mais conspícuos em um ambiente, dessa maneira a coloração predominante seria mais facilmente detectada pelo seu polinizador.