Este artigo é parte do Núcleo de Agroecologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte em que se buscou mapear as iniciativas agroecológicas no campo do ensino, da pesquisa e da extensão no referido estado. Para essa proposta especificamente, analisou-se como e em que medida a educação agroecológica tem sido incorporada, nesse tripé, pelos cursos da Unidade Acadêmica Especializada em Ciências Agrárias (UAECIA), situada na Escola Agrícola de Jundiaí (EAJ), Campus de Macaíba, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) a fim de entender como se dá a discussão sobre a transição agroecológica na instituição. Em um contexto de luta pela democratização da terra e da água e das diferentes abordagens de convivência com o semiárido norte-rio-grandense, que revelam novos horizontes de relacionamento entre sociedade rural e natureza – como se insere a perspectiva agroecológica? Desse modo, quis compreender as possibilidades para o ensino da agroecologia frente à hegemonia de uma produção agroindustrial exploratória, a qual vem causando fortes impactos socioambientais, buscando entender como as ciências agrárias convergem ou divergem deste novo paradigma. Para tanto, a revisão de literatura se fez à luz de Mendonça (1997), Caporal (2009), Petersen (2013) e Figueiredo (2013), bem como cartas da Associação Brasileira de Agroecologia. Do ponto de vista empírico, foi realizado um levantamento da produção acadêmica sobre agroecologia da instituição no âmbito do ensino, extensão e pesquisa por meio do Sistema Integrado de Gestão de Atividades Acadêmicas (SIGAA) e do banco de dados de teses e dissertações da EAJ. Além disso, foi realizado analise dos currículos dos cursos em que aparece explicitamente a palavra agroecologia, ou noções e/ou práticas identificadas, na literatura, como sendo agroecológicas (manejo agroecológico, agroflorestas, compostagem, etc.). Dados divulgados pela Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), 2017, 12% do território brasileiro é de regiões semiáridas, caracterizadas pela quantidade limitada e má distribuição das precipitações pluviométricas durante as estações chuvosas. No Rio Grande do Norte o semi-árido ocupa 95% da área do estado. Contudo, a pesquisa revelou que a inserção da agroecologia dá-se de forma embrionária, ao mesmo tempo em que se perpetuam práticas e conteúdos que buscam promover o agronegócio. Desse modo, a EAJ, que deveria ser espaço de formação de profissionais aptos a lidar com questões socioambientais próprias do semiárido, atua na contramão, com quantidade insatisfatória de disciplinas sobre agroecologia, quadro reduzido de docentes que atuam na área e pequena quantidade de projetos de pesquisa e extensão sobre o assunto. Com a revisão de literatura e pesquisa empírica, mostrou-se a funcionalidade dessas práticas aos interesses do capital, bem como sua influência na geração de demandas – quando o capital não tem interesse em algo, intelectuais burocratas também não o têm, prevalecendo conteúdos e projetos que reforçam a hegemonia do agronegócio no desenvolvimento rural. Em contrapartida, o discurso agroecológico vem ganhando força dentro e fora dos muros da instituição, consolidando efetivamente novas práticas e relações com o meio rural, propondo o protagonismo de diversos atores sociais envolvidos e revelando caminhos para o diálogo entre técnicos e produtores, conduzindo à participação efetiva das comunidades rurais nos programas de desenvolvimento local.