A presente pesquisa parte da ideia de que há uma forte relação entre a Literatura e a Psicanálise, pois, quando o autor escreve, ele deixa marcas que expressam desejos, desejos esses que podem ser revelados por meio da linguagem. Para isso, o leitor buscará a complexidade e profundidade das palavras, desocultando o não dito, como também as contradições e os desejos inconscientes do autor. Dessa forma, acreditamos que os estudos da Psicanálise trazem bastante importância para a Crítica Literária, sobretudo à compreensão de gêneros que estão surgindo na nossa contemporaneidade e que possuem poucos estudos em sua base, a exemplo da literatura homoerótica. Assim sendo, cremos que a Psicanálise pode nos ajudar no tocante ao entendimento dos afetos e dos desejos homoeróticos em textos literários, a fim de visibilizar a identidade LGBT e sua representatividade na literatura ao longo dos tempos, além de melhor compreender os conflitos internos e externos por que passam personagens homoeróticos em muitos textos literários. Com isso, o presente trabalho procura refletir sobre a relação teórico-metodológica entre a Literatura e Psicanálise a partir do conto homoerótico As três irmãs, de Mia couto, autor moçambicano. Para isso, aplicaremos alguns conceitos apresentados pela Psicanálise a esse texto literário, a fim de compreender os desejos ocultados, o prazer desvelado e vozes não ditas ou mal compreendidas nesse conto. A presente pesquisa é explicativa e de cunho bibliográfico e interpretativista e segue duas linhas teóricas: a da Crítica Psicanalítica e Literatura e a da Literatura homoerótica. No caso da primeira, apoiamos nossas reflexões nos estudos de Eagleton (2006), Souza (2009) e Samuel (2011). No caso da segunda, centramo-nos nos estudos de Fernandes (2015) e Lopes (2002). Esperamos, portanto, que as reflexões apresentadas neste trabalho possam impulsionar outros trabalhos com a temática homoerotismo e Psicanálise, de maneira que a inserção, sistemática, de tal temática, na sociedade ou até mesmo na sala de aula, possa contribuir para a formação de leitores/as que possam tomar consciência da existência homoerótica e tudo que a caracteriza, tornando-se, talvez, mais respeitosos/as, humanizados e abertos à pluralidade que nos institui e nos constitui. Além disso, esperamos que esse trabalho possibilite aos professores de literatura mais uma possível leitura desse conto de Mia Couto sob o olhar da Crítica Psicanalítica, de modo que haja, durante a recepção desse texto, uma maior compreensão dele por parte de todos, na sala de aula.