VIANA, Ana Cláudia Albano. A obra coreográfica e sua potência educativa. Anais IV CONEDU... Campina Grande: Realize Editora, 2017. Disponível em: <https://editorarealize.com.br/artigo/visualizar/35490>. Acesso em: 23/12/2024 00:42
A obra coreográfica educa, pois exprime dimensões variadas da existência através da escrita do corpo em movimento. A coreografia apresenta-se como escritura concreta do corpo em movimento, em direção a possíveis reinvenções de vias de acesso e desvelamento de sentidos acerca do mundo, do humano, da cultura. Assim, ela possibilita caminhos para pensarmos uma educação que considere os sentidos do corpo e sua comunicação sensível, os saberes das ações cotidianas e banais, o sentido de inacabamento da existência e as múltiplas interpretações acerca da realidade vivida ou imaginada. De forma intencional, consideramos as seguintes obras coreográficas como dispositivos acionadores da pesquisa: Cédric Andrieux, por Jérôme Bel; Orfeu e Eurídice, por Pina Bausch e Pequeno Mundo Vermelho, por Clébio Oliveira. A partir desse corpus de análise, delineamos os seguintes objetivos: 1) analisar e refletir sobre os aspectos educativos das obras coreográficas, evidenciando suas gestualidades, temporalidades e visibilidades; 2) evidenciar possíveis relações e contribuições no sentido da compreensão do corpo e sua comunicação sensível e das obras coreográficas como uma expressão da vida no contexto de uma educação estesiológica e como aprendizagem da cultura. Trata-se de uma pesquisa fenomenológica na qual iremos utilizar como fontes para a descrição vídeos e fotografias das obras coreográficas. Considera-se ainda narrativas de experiências vividas com a dança, notadamente como intérprete de Pequeno Mundo Vermelho, por reconhecer nas trajetórias percorridas a memória corpórea na busca por outros sentidos e significados ainda não desvelados e próprios do mundo vivido. As análises das obras coreográficas serão realizadas a partir da metodologia desenvolvida pelo grupo de pesquisa Estesia que tem como referência principal a filosofia de Merleau-Ponty, articulada com a análise de movimento proposta por Rudolf Laban e a análise de espetáculos proposta por Patrice Pavis (Nóbrega, 2015). Como interlocutores principais utilizaremos Merleau-Ponty (1969/2002, 1945/1999, 1964/2004, 1964/2005), na compreensão acerca da comunicação sensível - estesia, e da obra de arte, bem como, enquanto método e atitude fenomenológica. Consideramos também a relação entre inconsciente e arte a partir de Sigmund Freud (1900/2012; 2015) e a autopoiesis e educação em Maturana e Varela (1984/2010; 1994/1997), em Antônio Rezende (1990), Joel Martins (1992), Petrúcia Nóbrega (2005; 2010) e na dança Paul Valéry (1939/2015), Laurence Louppe (1997/2012) e Petrúcia Nóbrega (2015); bem como os estudos produzidos no Grupo de Pesquisa Estesia. Consideramos que as obras coreográficas escolhidas desvelam tanto uma pluralidade das abordagens estéticas na dança, quanto uma busca dos artistas por provocar descondicionamentos de padrões estabelecidos, dissolução das fronteiras entre a arte e a vida e um humano corporal, racional e poético, dimensões essas percebidas enquanto possibilidades profícuas de processos educativos que considerem o corpo e a obras coreográficas enquanto agentes de aprendizagem e reinvenção da cultura.