1. INTRODUÇÃO Com o crescimento mundial da população idosa, os temas a ela relacionados perfazem grande parte do cenário das discussões científicas, bem como da saúde pública. No entanto, discutir sobre sexualidade nessa população torna-se empreitada laboriosa, uma vez que, pensar em idosas mantendo suas relações sexuais, não condiz uma ideia culturalmente bem aceita. Neste ínterim, a relação sexual tem sido considerada uma atividade própria, e monopolizada, das pessoas jovens, das pessoas com boa saúde e fisicamente atraentes. De acordo com Antunes e Mayor1, a idéia de que as pessoas de idade avançada também possam manter suas relações sexuais não é culturalmente muito aceita, optando-se por ignorar e postergar do imaginário coletivo a sexualidade da pessoa idosa. Os mesmos destacam que a velhice conserva a necessidade psicológica de uma continuação da atividade sexual, não havendo idade para cessação dos pensamentos sobre sexo ou o desejo. A sexualidade quando relacionada ao envelhecimento remete a mitos e estereótipos levando idosos à condição de pessoas assexuadas, e consequentemente, representando um tabu. Parte-se do princípio de que é importante apresentar e discutir, no período de formação profissional, a continuidade de vida sexual no processo de envelhecimento, podendo a mesma ser vivida de forma sadia e prazerosa, minimizando assim, tabus existentes2. Estudos mostram que 74% dos homens e 56% das mulheres casadas mantêm vida sexual ativa após os 60 anos. Além disso, muitas das alterações sexuais que ocorrem com o avançar da idade podem ser resolvidas com orientação e educação, uma vez que, problemas comuns também podem afetar o desempenho sexual, tais como: artrites, diabetes, fadiga, medo de infarto, efeitos colaterais de fármacos e álcool3. Nesse contexto, percebe-se que a sexualidade na terceira idade é um tema que merece discussão, uma vez que traz consigo vários estereótipos. Surge, dessa forma, a necessidade de se conhecer o significado da sexualidade para essa população. Dessa forma, objetivou-se, com este estudo, analisar a percepção de idosas sobre a manutenção da vida sexual ativa na terceira idade.2 METODOLOGIA Trata-se de estudo do tipo descritivo, exploratório com abordagem qualitativa. A população foi constituída por mulheres idosas usuárias da Clínica Escola da Faculdade Maurício de Nassau, localizada na cidade de Campina Grande-PB, compondo a amostra as primeiras dez voluntárias que aceitaram fazer parte da pesquisa, e atenderam aos critérios de inclusão e exclusão. Os critérios de inclusão foram: ser do sexo feminino, ter mais de 60 anos, aceitar participar voluntariamente da pesquisa e ter assinado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE. As entrevistas foram realizadas no mês de abril de 2013, sendo a coleta de dados realizada através de entrevista semi-estruturada, utilizando questionário contendo dez perguntas e ainda foram gravadas em áudio tape. Para análise dos dados, foi realizada a transcrição e leitura das informações, classificando-as em categorias e subcategorias, criadas, a posteriori, a partir das respostas provindas das idosas. Cada idosa recebeu o nome de uma flor para identificar suas falas.3 RESULTADOS Foram entrevistadas dez idosas cuja média de idade foi de 71,5 anos, variando de 60 a 82 anos (DP-8,44). A maior proporção era de mulheres casadas e viúvas (ambas 40%). Quanto à escolaridade 60% das mesmas tinham apenas ensino fundamental incompleto. O grupo de 70 a 79 anos apresentou maior proporção de mulheres casadas (75%). Já o maior nível de escolaridade encontrado (Ensino Médio Completo) foi entre as mulheres de 60 a 69 anos. Quanto à existência de parceiro fixo entre as participantes, 40% responderam sim. Ao se estratificar por faixa etária, destacou-se a faixa etária de 80 anos ou mais, a qual, 100% das entrevistadas não possuem parceiro fixo. A partir do questionamento “Para a senhora é possível ter uma vida sexual ativa na terceira idade?”, foram construídas as seguintes categorias: Sexo não tem idade; Terceira idade sem sexo e Sexualidade além da relação sexual.Pela análise dos discursos das entrevistadas, foi possível perceber que a maioria acredita na possibilidade da manutenção do sexo na terceira idade, no entanto, vale ressaltar que estas mesmas mulheres alegam a inexistência do sexo em suas relações conjugais. Esse fato é percebido na fala de Lavanda e de Fucásia: “[...] acho que a vida sexual, num é somente fazer o sexo não, é ter o carinho do homem, mas os homens são tão rústicos. Que se encostar nele, eles pensa que arrente já tá querendo algo, né?! Mas né só isso não. É amor, é carinho. Mas o lá de casa num tem” (Lavanda).“É... Só que a minha acabou a festa (risos), não existe mais, mas, é possível sim, até o fim da vida” (Fúcsia)Na fala de Acácia, é retratada a visão negativa da sexualidade na terceira idade, compartilhada por grande parcela da mulheres, na qual ela remete a cessação da vida sexual à transformações orgânicas do envelhecimento. “A mulher e o homem que disser que depois de oitenta anos tem sexo, eu penso que é mentira... Eu acho que não, porque os órgos [...] vão seca... vão... diminuino. Assim, porque até o jeito da gente num cai?, você num sente a visão também, num sente? [...] Num precisa de audição? Pois mermo assim cada um desses orgos também, eles pode ficar desse jeito e num haver certas qualidade. Eu acho que não, na minha visão, mas...” (Acácia)4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Embora a sexualidade nos remeta a conotação de intimidade, não se pode desprezar a ação desse aspecto na saúde mental e fisiológica da população idosa. Foi visto, através dos discursos, que existe a vontade e o desejo sexual. Este, porém é suprimido pela ação de doenças, alterações fisiológicas ou preconceitos relacionados à própria cultura. A abstinência sexual, principalmente para mulher, trás consigo mais um problema de saúde pública, que é o aumento da prevalência de IST’s. Uma vez que os homens, embora não busquem suas companheiras como foi mencionado em vários depoimentos, costumam manter relações extraconjugais. Com isso, percebe-se a necessidade a interferência da saúde pública na otimização da qualidade da vida sexual, contribuindo para o tão falado envelhecimento ativo.