Dedicamo-nos, desde 1994, ao ensino de fonética e fonologia, tanto na graduação quanto na pós-graduação, nas áreas de língua materna e língua estrangeira. Ao longo de 2016, respondendo a um apelo social irrecusável, decidimos desenvolver um processo de letramento individual em português, língua materna. Anotamos cuidadosamente cada uma das etapas percorridas, os conteúdos diários, as técnicas e estratégias utilizadas, assim com os comentários da protagonista da experiência, EFAO, uma auxiliar de serviços gerais analfabeta, de 52 anos de idade, seus avanços e recuos. Partimos de apelos sonoros, tomando como ponto de referência objetos que EFAO usava diariamente. Apresentamos os sons vocálicos e consonantais da língua portuguesa, os primeiros, em qualquer posição, exceto em fim de sílaba átona (coda), e os segundos, em posição silábica tônica ou inicial (ataque). Quando percebemos que EFAO dominava o sistema sonoro como um todo a partir dos estímulos icônicos escolhidos, iniciamos a segunda etapa da experiência, vinculando, em primeiro lugar, sons e letras em correspondência unívoca, tanto vocálicos quanto consonantais, acrescentando, posterior e esporadicamente, sons e letras em correspondência equívoca. A experiência didática não teve um final feliz, pois o aprendizado de EFAO estancou definitivamente no trigésimo oitavo dia. Várias hipóteses podem esclarecer o fracasso.