SOUZA, Gabriela Barbosa et al.. Trabalho pedagógico com o gênero textual conto. Anais IV SINALGE... Campina Grande: Realize Editora, 2017. Disponível em: <https://editorarealize.com.br/artigo/visualizar/27661>. Acesso em: 27/12/2024 04:06
Os gêneros textuais vêm sendo bastante estudados nas áreas da Linguística e da Educação, por considerarem estes como elementos interdisciplinares e capazes de relacionar o funcionamento da língua com as atividades culturais e sociais. O trabalho pedagógico com gêneros textuais vem sendo discutido a partir de diversos olhares. Estudiosos (MARCUSCHI, 2003; TRAVAGLIA, 2007) tem buscado conceituar os gêneros a partir de seu caráter social e cultural, enfatizando sua importância para o processo de ensino-aprendizagem. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1998) propõem o estudo e conhecimento das características de cada gênero textual no que se refere à sua estrutura, bem como a pertinência da realização de situações didáticas que possibilitem aos alunos o conhecimento formal dos textos em função do eixo uso – reflexão – uso, nas quais devem ser trabalhadas práticas de leitura, práticas de produção de texto e análise e reflexão sobre a língua. Esta pesquisa buscou analisar se uma determinada estratégia pedagógica com o gênero textual conto possibilita o registro da cultura indígena e a compreensão da estrutura textual. Desenvolveu-se uma mediação pedagógica, utilizando do instrumento pedagógico Sequência Didática, em uma turma do 5º ano do Ensino Fundamental I, de um Colégio Estadual Indígena localizado em Pau-Brasil, Bahia. A turma foi dividida em grupos para a escrita de duas versões do gênero textual conto, sendo uma produção inicial e a outra produção final. Inicialmente, os alunos foram despertados para a escrita de contos referentes à sua própria cultura, mediante a leitura do conto “O amigo do Rei” de Ruth Rocha (2009). A partir das produções iniciais dos contos e da dinâmica da turma, foram desenvolvidas intervenções, buscando possibilitar a compreensão da estrutura textual do conto, através do desenho, promovendo a ilustração das narrativas e a oralidade dos alunos a fim de que os próprios discentes apresentassem oralmente a sua interpretação dos contos. Objetivamos valorizar as narrativas orais e visuais que se fazem presentes na cultura indígena. Posteriormente, os alunos reescreveram seus contos, utilizando como base os desenhos produzidos para registrar cada parte de suas narrativas. Os dados foram analisados através de um roteiro baseado no estudo de Gancho (2007), o qual traz a discussão de como analisar narrativas, levando em consideração os aspectos estruturais de uma narrativa e se nesta narrativa aparece registros culturais. Ao se tratar da estrutura textual, percebeu-se que os alunos ampliaram suas competências, delimitando os elementos constituintes do conto. Quanto ao registro da cultura indígena, a maioria dos grupos conseguiu construir a segunda versão das narrativas com mais detalhes culturais comparando à primeira versão. Nesse contexto, nota-se que a partir do trabalho com os aspectos formais do gênero textual conto, conseguiu-se estimular os alunos a produzirem um texto mais coeso e com aspectos da cultura local. A partir da realização deste estudo, notou-se a relação entre os aspectos formais da língua e seus conteúdos temáticos, uma vez que para analisar o registro da cultura indígena, fez-se necessário perceber a existência dos elementos constituintes do conto e analisá-los em seus aspectos formais.