Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), em pesquisa publicada em fevereiro de 2016, a Paraíba é o 3º Estado do Nordeste mais perigoso para uma mulher viver. De acordo com o levantamento, entre os anos de 2011 e 2013, foram quase 8,0 mulheres assassinadas para cada 100 mil habitantes do gênero feminino, índice superior ao da média nacional, de 4,6 homicídios (GARCIA & SILVA, 2016). Nesse sentido, exercer diálogos mais salutares para com os estudos de gênero e sexualidades, responsáveis por desconstruir preconceitos e (re)significar os papéis atribuídos ao homem e a mulher na esfera social, é uma iniciativa que se faz urgente. Desse modo, esse trabalho tem pertinência por propor, para a sociedade acadêmica de maneira geral, debates e reflexões atuais sobre os modos como a cultura – aqui delimitada pela literatura infanto-juvenil contemporânea, através da obra Eugênia e os robôs, de Janaina Takitaka (2014) – tem sido utilizada como mecanismo de transgressão de comportamentos sociais. Comportamentos, esses, inseridos e diferenciados no/pelo binarismo do masculino e feminino. Normas sexuais e de gênero socialmente construídas, mas assimiladas, por nós, desde a mais tenra infância, como práticas normais, biológicas e/ou naturais, como assegura Chimamanda Adichie (2015). Com base nessas problematizações, através da narrativa proposta, indagamos: onde estão as mulheres que desejam equidade de oportunidades no Ocidente da contemporaneidade? Qual o papel da Universidade, da Escola e da educação, no combate às injustiças e crimes sofridos por mulheres no Brasil? Quais funções possuem as narrativas infanto-juvenis nas aulas de Leitura e Literatura? Que tipo de discurso ideológico estamos reproduzindo no interior de nossas salas de aula? A ficção de Janaina Takitaka (2014), menos conhecida do grande público, pode apresentar caminhos promissores para tais inquietações. Eugênia e os robôs incorpora, como expõe Pinto (2011) ao tratar da literatura infanto-juvenil em vigência, as “transformações estruturais que correspondem às mudanças das concepções de mundo no campo da ciência, das letras e da arte, perdendo um pouco aquele teor essencialmente pedagógico típico da literatura tradicional”. Dessa forma, diferente dos clássicos contos de fadas, os quais anteriormente apresentavam alta carga de influência disciplinadora do patriarcado, agora, a literatura voltada para jovens e crianças, tomada pelo efeito do boom tecnológico, se abre para novas possibilidade de ver e enxergar o mundo, priorizando a pluralidade, a igualdade e a diversidade em detrimento do singular, assimétrico e unilateral. Nosso objetivo, portanto, é analisar como as representações menos idealizadas das personagens femininas, em Eugênia e os robôs, pode conferir, para os professores e os pequenos leitores, a possibilidade de estabelecerem discussões mais profundas e aproximadas sobre o que é ser mulher, ao respeitar o gênero feminino dentro de uma subjetividade que não precisa ser moldada por anseios e expectativas sociais que só tendem a privilegiar o homem heterossexual. Como meio de fundamentar nossa pesquisa, contaremos com o aporte teórico produzido por Adichie (2015), Beauvoir (2009), Colomer (2007), Hunt (2010), Zilberman (2012), dentre outros, os quais nos levarão a achados que envolvem literatura, cidadania, equidade, ensino e resistência.