Este trabalho tem como objetivo investigar a constituição da eleição presidencial americana de 2016 como acontecimento discursivo, marcado pela discursividade que instaurou a subjetivação do candidato Donald Trump no espaço da veridicção e da parrhesía. Trazendo uma problematização acerca da noção-conceito de acontecimento discursivo, o estudo mobiliza as contribuições de Pêcheux (1997, 2006, 2007) e de Foucault (2005, 2007, 2010), dentre outros, permitindo a discussão acerca da constituição histórico-social e, portanto, discursiva do sentido enquanto efeito e do discurso enquanto prática. Trata-se da proposta de se lê a irrupção do acontecimento discursivo como espaço produtor de subjetividade, alicerçado em manobras de controle e inscrito em relações de poder-saber, sendo estes os instrumentos operados pela mídia para produzir, ao mesmo tempo, efeitos de visibilidade e de silenciamento. Mobilizando o método arquegenealógico de Michel Foucault e promovendo a análise de materialidades de natureza jornalística – matérias e manchetes – provenientes da cobertura midiática da eleição presidencial americana, assim como pela investigação sobre os efeitos de parrhesía no discurso de Donald Trump, o estudo volta-se para a discursividade midiática em torno da política, evidenciando o espaço das práticas discursivas como condição exponencial para se entender os recortes de realidade e o processo de subjetivação dos sujeitos sociais, considerando, sobretudo, a formulação e a circulação de um discurso de veridicção, marcado pelo tudo-dizer no escopo do falar francamente. As análises apontam para a necessidade se atribuir um olhar para as estratégias de poder e de saber que são agenciadas pela mídia para fabricar posições de sujeito e fazer irromper acontecimentos discursivos num trajeto ao mesmo tempo de visibilidade e de silenciamento.