Este trabalho é resultado de uma pesquisa recentemente defendida no doutorado em Sociologia na UFPB. Nele objetiva-se discutir de forma panorâmica algumas representações do tempo por mulheres idosas pertencentes a dois segmentos sociais distintos: os segmentos médios e populares. Procura-se ainda apresentar alguns dos usos que elas fazem do tempo cotidiano, revelando a velhice como uma fase favorável para o desenvolvimento de uma vida para si, auto satisfatória, que tem como base o enaltecimento de uma ética que privilegia “um tempo para si” em detrimento ao “tempo dedicado aos outros”, especialmente à família. Os elementos empíricos deste trabalho foram qualitativamente selecionados. Utilizou-se primordialmente o recurso das narrativas de vida de 13 senhoras dos segmentos citados, segundo os moldes de Daniel Bertaux, residentes na cidade de João Pessoa, na tentativa de conhecer as transformações no curso da vida contemporâneo, nos valores, nas representações e nas práticas relacionadas à velhice feminina. Também foram realizadas observações diretas, seguindo as orientações metodológicas de José Guilherme Magnani , em um dos bairros dessa cidade, o bairro de Bancários. Onde também foram realizadas entrevistas semi estruturadas e aplicados questionários com aproximadamente 60 senhoras com idade entre 60 e 70 anos. As narrativas deixaram evidente que a organização do tempo presente não se separa de suas experiências passadas. As narrativas das senhoras em relação ao tempo mostram a preocupação de um redimensionamento do tempo limitado pela ideia de seu próprio fim, a partir da opinião de que o tempo passado parece ser mais longo do que aquele que se está por vir. E com isso ressalta-se a necessidade de um tempo para se viver melhor o aqui e o agora, priorizando o presente e seu bom proveito. Duas principais representações sobre do tempo marcaram as narrativas das senhoras: o tempo das obrigações, vivenciado nas primeiras experiências da vida adulta, quando se acumulavam as responsabilidades com trabalho, filhos e vida doméstica e o tempo de liberdade, o tempo para si, que marca o presente trazendo abertura para novas vivências, especialmente fundadas na ética da realização pessoal. Tais representações se fizeram presentes nas narrativas das senhoras dos segmentos médios e populares, guardando suas especificidades, mas deixando ver que o tempo da velhice feminina traz expressões profundas das identidades femininas tradicionais nos grupos geracionais de senhoras com idade entre 60 e 70 anos. E que atualmente estas mulheres tem investido em criar novas lógicas de comportamento privilegiando um tempo para si.