Atualmente, com a evidência social e científica que os eventos climáticos extremos vêm tomando, tem-se atribuído maior importância aos manejos dos recursos naturais elaborados pelas populações tradicionais/locais. Um desses manejos objetiva prever o tempo e o clima, possibilitando diferentes técnicas de desenvolvimento em relação aos meios para previsão e remediação dos impactos dos eventos climáticos.
O presente trabalho objetiva relatar o contato do homem com a natureza na região do Nordeste Setentrional, em especial, a relação dos chamados “profetas da chuva” com o meio que os cerca. Essa forma peculiar de interação possibilita que os profetas ao longo do tempo possuam como uma das suas ferramentas principais em relação à seca, a sua própria percepção ambiental.
Os “profetas da chuva” são moradores da região do Nordeste Setentrional que realizam suas previsões de tempo e clima sem ajuda de satélites ou equipamentos meteorológicos. Os prognósticos climáticos que elaboram são baseados em observações da natureza e são tomadas como referência de pesquisa e estudo da etnoclimatologia da região.
O trabalho teve como objetivo compreender qual a influência desses prognósticos nas práticas agrícolas e identificar as suas implicações na população residente na região.
O estudo identificou que a difusão das previsões meteorológicas científicas feitas pelo Instituto Nacional de Meteorologia - INMET, dentre outros institutos, não fornecem informações para a região em destaque do modo que o conhecimento tradicional e os prognósticos dos profetas da chuva fazem. As profecias se espalham pela população através da comunicação das rádios e de pessoa para pessoa, atingindo rapidamente e de modo mais compreensível os agricultores e população.
Observou-se que as consequências desse processo peculiar de interação do homem com a natureza vão além dos impactos no planejamento agrícola e no sistema produtivo. As profecias também influenciam a fé em Deus e alimentam a esperança nordestina por uma vida melhor. Por fim, os prognósticos dos profetas da chuva revelam-se como uma importante capacidade adaptativa desenvolvida pela população.